Na tarde de uma quinta-feira, dia 7 de novembro de 2019, José Renato Gomes de Abreu, principal suspeito de ser o mandante do assassinato de Cícero Guedes, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), morto em Campos dos Goytacazes (RJ), foi inocentado no tribunal do júri. A decisão pela absolvição do réu foi por 4 votos a 2.
Com camisas pedindo justiça para o crime que tirou a vida do militante sem terra, uma vigília foi montada e cerca de 100 pessoas acompanharam a audiência no plenário do Fórum Maria Tereza Gusmão, na Avenida XV de Novembro, em Campos.
A sensação final, no entanto, foi de impunidade, como acontece na maior parte dos crimes envolvendo violência contra ativistas do MST.
Os elementos de convicção eram fartos. O próprio delegado envolvido no inquérito reafirmou em depoimento que José Renato teria sido o mandante do crime. Entretanto, a decisão que inocentou o réu foi tomada em poucos minutos pelo júri. Após o veredito, militantes que estavam acompanhando a audiência fizeram um protesto e manifestaram profunda tristeza sobre a sentença.
Morte por emboscada
Cícero Guedes foi assassinado por três pistoleiros no dia 25 de janeiro de 2013 nos arredores da Usina Cambaíba, onde coordenava o acampamento Luiz Maranhão. De acordo com as investigações, Cícero foi vítima de uma emboscada no meio da estrada.
Em nota, após o julgamento, o MST destacou que a luta por memória e justiça para Cícero Guedes mobilizou diversas organizações, parceiros, acadêmicos, sindicatos e movimentos sociais. Apesar de lamentar a decisão do júri, o movimento entendeu que o legado de Cícero vai além do sistema de Justiça.
“Esse resultado reforça o quanto trabalhadores e trabalhadoras rurais não conseguem ter o reconhecimento de seus direitos diante do sistema de justiça brasileiro, marcado pela oligarquia rural e empresarial, que insiste num sistema baseado em dois pesos e duas medidas, mantendo as cercas desse poder inacessível a classe trabalhadora.
“Na amplitude da vida e da luta continuaremos nas trincheiras carregando o legado que Cícero nos deixa”, concluiu a nota.

“Meu Nome é Cícero”
Agora, o ativista é tema do musical “Meu Nome é Cícero”, que será apresentado no Teatro Municipal Trianon, em Campos, no dia 5 de junho, às 19h. O roteiro é do dramaturgo e poeta Adriano Moura, com música de Matheus Nicolau. No elenco estão os atores Adriana Medeiros, Gualter Torres, Arnaldo Zeus e Tim Carvalho.
O espetáculo tem uma importância simbólica ao homenagear um ativista que lutou pela reforma agrária na cidade que foi polo de uma luta pela libertação da escravatura e que ainda continua envolta no racismo estrutural, a na desigualdade social.