A suposta organização criminosa que operava no governo Wilson Witzel, no Estado Rio, dividiu a estrutura do Estado entre duas facções: uma controlada pelo grupo do empresário Mário Peixoto e outra vinculada ao Pastor Everaldo Dias, presidente nacional do PSC.
Os dois estão presos, Peixoto no âmbito da Operação Placebo e Pastor Everaldo no âmbito da Operação Tris in Idem. Os esquemas são milionários e os operadores ousados.
De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, que posteriormente fundamentou o pedido de afastamento de Witzel e a prisão de Everaldo Dias, um dos grandes propinodutos para pagamento de propina às autoridades estaduais se deu através de contratos do Estado com Organizações Sociais (OS) e empresas terceirizadas.
Essas organizações e empresas atuam em Hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), além de autarquias como Detran-RJ e Cedae.
O detalhamento da organização está na denúncia formulada pela Procuradoria Geral da República junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), conteúdo que está disponível para consulta e download na plataforma digital da agência Fonte Exclusiva, como parte da série de reportagem Covidão Guloso.
Na petição assinada pela subprocuradora-Geral da República, Lindôra Maria Araújo, o MPF explica que na estrutura administrativa do Estado o grupo do empresário Mário Peixoto tinha maior proeminência nas secretarias de Educação, Ciência e Tecnologia.
Já o núcleo do Pastor Everaldo Dias operava com mais intensidade no Detran-RJ, Cedae e Saúde.
Além de Peixoto e Everaldo Dias, Wilson Witzel, a primeira-dama e mais 9 pessoas estão indiciadas neste inquérito (1.338). Confira lista completa:
1 – Wilson Witzel – Governador
2 – Helena Witzel – primeira-dama do Estado
3 – Pastor Everaldo Dias – presidente Nacional do PSC
4 – Mário Peixoto – Empresário
5 – Lucas Tristão – Ex-secretário de Estado de Desenvolvimento
6 – Alessandro de Araújo Duarte
7 – Cassiano Luiz da Silva
8 – Juan Elias Neves de Paula
9 – Juan Elias Neves de Paula
10 – João Borges Marcos Mattos
11 – Gothardo Lopes Neto
O inquérito tem vários desdobramentos. Um deles foi responsável pela deflagração de pelo menos duas Operações e tudo indica que virão outras, porque no decurso das investigações, a apreensão de documentos e interceptações telefônicas permitiram que a Polícia Federal alcançasse outros suspeitos, incluindo prefeituras e deputados na Assembleia Legislativa (Alerj).
ENTENDA O CASO
A denúncia focada nesta reportagem aponta o pagamento de propina ao governador Wilson Witzel e a primeira-dama Helena Witzel, por meio de contratos entre o escritório de advocacia e as OSs.
As investigações chegaram ao esquema a partir da delação do ex-secretário de Saúde Edson Santos e as evidências se reforçam com mensagens de e-mails e whatsapp trocadas entre os suspeitos ao longo da consumação dos crimes.
Nos e-mails do governador Wilson Witzel guardado em nuvens, por exemplo, a Polícia encontrou evidências de que ele mesmo no exercício do cargo fez minuta de contrato entre o escritório de advocacia de sua esposa e pessoas jurídicas que operam serviços na administração estadual. O escritório chegou a receber R$ 270 mil por meio deste mecanismo.
O afastamento do governador Wilson Witzel e as prisões foram deflagradas com autorização do ministro do STJ Benedito Gonçalves, por meio de outro pedido que será objeto da próxima reportagem.
A decisão do STJ, por se tratar do afastamento de um governador e ter sido forma monocrática, é alvo de contestação por parte de alguns juristas. Eles entendem que a decisão deveria ser por meio de colegiado.
A organização criminosa operava na administração estadual antes da pandemia da Covid-19, mas tudo indica que foi neste período que atuou com mais voracidade para desviar recursos públicos.
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