No auge da pandemia da covid-19 no ano passado, quando empresas mergulhavam em falência e o país já contabilizava milhares de mortes, a concessionária Águas do Paraíba, que atua nos serviços de água e esgoto na cidade de Campos, Norte Fluminense, registrou um lucro bruto de R$ 139,2 milhões.
O lucro líquido da empresa no exercício financeiro foi de R$ 40 milhões, o que possibilitou fechar o ano com R$ 44 milhões em caixa, quantia livre de qualquer despesa.
Os dados constam no levantamento realizado pelo Radar da Agência Fonte Exclusiva, extraído do balanço financeiro divulgado neste domingo (23) na versão impressa do jornal local Terceira Via.
O lucro milionário possibilitou a distribuição de 25% do montante líquido, R$ 10 milhões, para os cotistas. Uma renda extraordinária obtida em uma cidade miserável, quando pequenos comércios fecharam por força de decretos que implicaram em restrições na circulação de pessoas, o desempregou aumentou e o índice de pessoas com fome explodiu.
O demonstrativo destaca uma pequena queda de receita da concessionária em comparação com o faturamento de 2019, antes da pandemia, quando a empresa contabilizou um lucro líquido de R$ 57,2 milhões, mas o reajuste de tarifa de 7,14% que está vigorando este ano vai recompor ainda mais esse lucro, o que deverá demonstrar o próximo balanço financeiro.
A queda no faturamento ante ao balanço de 2019 foi de apenas R$ 10 milhões. Contudo, o desempenho no ano pandêmico ainda expõe um lucro extraordinário em uma cidade que tem 45 mil pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza e 180 mil trabalhadores recebendo auxílio emergencial do governo Federal.

Os valores do Auxílio Emergencial que está vigorando por apenas três meses variam de R$ 150 a R$ 350.
Interessante observar que no ano passado, a divulgação do balancete da concessionária foi no Diário Oficial do Município, enquanto este ano, a empresa optou pelo jornal Terceira Via, que vinha difundindo reportagens críticas à concessionária.
O movimento da empresa pode simbolizar uma tentativa de acordo editorial por meio de publicidade, assim como uma manobra para evitar ampla publicidade do balancete.
ENTENDA A EMPRESA
Águas do Paraíba é uma filial de Águas do Brasil e pratica em Campos uma das tarifas mais caras do país. Ano passado, mesmo com a crise econômica e a pandemia, a concessionária reajustou a tarifa em 7,14%, índice bem acima da inflação.
Ainda que esteja surfando em lucros milionários, a cidade de Campos ainda convive com esgoto à céu aberto em algumas comunidades.

Atualmente um grupo de vereadores no legislativo municipal ensaiam a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação da empresa, mas a iniciativa estaria sendo obstruída pelo presidente da Casa, Fábio Ribeiro (PSD).
Ao comentar os dados em uma postagem do economista e colunista do Portal VIU!, Ranulfo Vidigal, nas redes sociais, o professor do Instituto Federal Fluminense (IFF) e pesquisador, Roberto Moraes, resumiu o grande negócio que a cidade de Campos, ainda que empobrecida, representa para esta concessionária privada, que é campeã de reclamações junto aos órgãos de proteção aos consumidores.
“Some os lucros líquidos, ano a ano, desde o início da concessão e irá se espantar com os resultados. Negócio sem risco e com circulação diária (mensal) de alto volume de capital. Não há justificativas num capitalismo normal (sic) para tamanha margem de lucros. Concessões de serviços públicos de saneamento rendem muito mais do que qualquer outra atividade da economia real. Bom que se lembre que se trata de monopólio privado. Não há concorrência na tese liberal que justificaria a privatização e os lucros”, destacou.
OUTRO LADO
Até o fechamento desta reportagem de Fonte Exclusiva, a assessoria de imprensa de Águas do Paraíba não comentou o resultado do balancete, assim como a direção da matriz, Águas do Brasil, no Rio de Janeiro.
SOBRE FONTE EXCLUSIVA: Agência dedicada ao jornalismo investigativo de dados, pesquisa de opinião pública e checagem de notícias.