O conteúdo do inquérito de número 134-6706-17 na 134ª Delegacia de Polícia de Campos dos Goytacazes (RJ), originário de uma notícia-crime no Ministério Público Estadual (MP-RJ), é rico em detalhar a nebulosidade que paira sobre a Recuperação Judicial da Usina Paraíso S.A.
O documento é assinado por Carlos Dias dos Santos, o Panela, um idoso de 73 anos.
A indústria centenária continua inviabilizada pelo volume de dívidas, está excluída de benefícios fiscais desde que perdeu completamente sua finalidade produtiva. Não produz açúcar e álcool desde 2014. Atualmente serve apenas como objeto de especulação no mercado e peça de propaganda política.
A unidade está fechada em Tocos, na Baixada Campista, mas seu espólio foi arrendado à imobiliária Veznella, sediada no Rio de Janeiro e de propriedade do empresário Renato Abreu, do grupo MPE. No âmbito da Lava-Jato, Abreu chegou a ser alvo de uma condução coercitiva.
É curioso que uma empresa que deveria atuar no mercado imobiliário e que nunca construiu uma casa, atue com venda de cana extraída nos canaviais da Paraíso.
O repositório da matéria prima continuará sendo a Usina Sapucaia, administrada pela Cooperativa Coagro, sob o comando do vice-prefeito da cidade Frederico Paes (MDB). A indústria também fabrica açúcar e álcool.
Agora, o lance mais ousado da turma foi lançar a safra “Coagro – Unidade Paraíso”, com churrasco farto no dia 22 de junho e direito a publicidade nas redes sociais. Ou seja, a Coagro agora assumiu de vez o que resta da Paraíso, consolidando-se, com isso, como integrante no pólo passivo da indústria de Tocos.

Como se trata de uma cooperativa, todos os cooperativos são, a partir de agora, oficialmente devedores nesse espólio de dívidas impagáveis, incluindo débitos tributários, podendo, inclusive, figuras como alvos de futuras execuções judiciais.
Se para os cooperativos da Coagro sobram razões preocupação, para outros é um alento. Esse é o caso, por exemplo, do denunciante Carlos Dias. Ele é um dos maiores credores da Usina Paraíso e cobra uma fatura avaliada em mais de R$ 20 milhões da indústria. Curiosamente, seu nome não consta no plano de recuperação judicial da indústria.
Na notícia-crime com mais de 100 páginas, o aposentado denuncia que foi vítima de um “golpe orquestrado por uma associação criminosa”, na qual incluiu os antigos dirigentes da Usina Paraíso, uma empresa (Faria Corretora) que intermediava venda de álcool para a refinaria Manguinhos e o seu proprietário. Todos já prestaram depoimento.
Mais recentemente, o aposentado pediu à Polícia a tomada de depoimentos também de Renato Abreu, sua sócia na Veznella, além do vice-prefeito Frederico Paes no mesmo inquérito.
Na Justiça de Campos também adormece, há 10 anos, um pedido do aposentado para penhora das canas da Usina Paraíso para ressarcimento de parte de seus prejuízos. Por enquanto, reina uma aparente zona de conforto, mas não se sabe até quando.
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