Câmeras de segurança de um shopping, em Brasília, registraram o momento em que uma estudante de medicina, de 27 anos, diz ter sofrido injúria racial. O caso foi em 14 de outubro e é investigado pela Polícia Civil. As imagens foram divulgadas nesta quinta-feira (11).
Segundo informações do g1, Rithiele Souza Silva conta que foi ofendida por uma idosa que estava na fila do caixa eletrônico, após pedir que a mulher respeitasse o distanciamento. Segundo a jovem, a suspeita é uma servidora pública federal, de 77 anos, que não teve o nome informado. O g1 tenta localizá-la.
“No vídeo, ela [idosa] chega próximo ao caixa e começa a me agredir verbalmente. É a hora que eu viro meio incrédula, não acreditando no que ela está falando”, conta a estudante.
“Foi na hora que ela falou: ‘vocês negros de [cidade] satélite não sabem mexer nisso [no caixa eletrônico]’. Eu fico incrédula, parada, e falo: ‘a senhora sabe o que está falando, que isso é racismo? Aí é nessa hora, ela bate no peito e fala: ‘Eu sou racista mesmo’ “, relata Rithiele.
Rithiele diz ainda que o inquérito na delegacia ainda não foi finalizado, mas que a idosa foi ouvida e negou que tivesse cometido injúria racial ou racismo (entenda diferença no fim da reportagem).
No dia da discussão, a estudante conta que evitou que a mulher saísse do shopping e diz que pediu por ajuda. Equipes de seguranças e a Polícia Militar foram até o local.
Segundo Rithiele, a mulher disse que tem 85 anos, e os policiais disseram que não encaminhariam a idosa à delegacia por conta da idade avançada. No entanto, pegaram os dados pessoais da suposta agressora para que a estudante registrasse um boletim de ocorrência na delegacia.
A jovem contou que respondeu à insinuação de que não teria instrução para usar o caixa, informando que é estudante de medicina na Universidade de Brasília (UnB), mas, que continuou sendo hostilizada pela mulher. “Ela olhou pra mim de cima para baixo e falou: Até parece”.
Rithiele diz que vai entrar na Justiça contra a idosa. “Quero Justiça, ainda mais agora sabendo que ela é estudada. Ela sabia o que estava fazendo. Essa agressão foi maior do que eu percebi no momento”, disse à reportagem.
O caso está sendo apurado como injúria racial na 5ª DP (Asa Norte). Na época, Rithiele disse que a ofensa foi para além da cor da pele. “É como se ela quisesse dizer que eu não estava sabendo mexer porque eu não tinha uma educação pra mexer no caixa eletrônico, por eu ser negra. E, diz ela, por morar em [cidade] satélite. Ela teve tanto a injúria racial quanto também a questão social”.
“Isso é crime. Não importa a idade, a cor, o gênero. Se você comete um crime, você tem que responder por ele”, diz a estudante.

Racismo e injúria racial
De acordo com a legislação brasileira, o crime de racismo é aplicado quando a ofensa discriminatória é contra um grupo ou coletividade. Por exemplo, impedir que negros tenham acesso a um estabelecimento comercial privado.
Já com base no Código Penal, injúria racial se refere a ofensa à dignidade ou decoro, utilizando palavra depreciativa referente a raça e cor com a intenção de ofender a honra da vítima.
Este ano, o Núcleos de Direitos Humanos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) enviou 37 denúncias para a Justiça e, dessas, 30 eram por suspeitas de racismo ou injúria racial.
No ano passado, foram 33 casos, sendo 23 deles envolvendo racismo ou injúria racial. A coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos do MPDFT, Cíntia Costa da Silva , afirma que “a questão ainda é muito grave” sobre os casos de discriminação.
“O Ministério Público e o Judiciário têm que ter uma atuação mais forte, mas tudo isso depende principalmente de que essa denúncia chegue no sistema de Justiça”, sugere Cíntia.