Preso no âmbito da Operação Rubi em junho do ano passado, na cidade de Presidente Kennedy, no sul do Espírito Santo, o empresário Marcelo Marcondes Soares narrou ao Ministério Público o modus operandi do esquema de pagamento de propina as autoridades do município.
Por meio de uma delação premiada, ele afirma que chegou a entregar dinheiro pessoalmente a Prefeita Amanda Quinta (PSDB). Ela foi presa durante a operação e atualmente está afastada do cargo.
O empresa de Soares atuava na limpeza urbana do município e a propina foi estipulada em 15% sobre o valor do contrato.
Interessante observar que o mesmo empresário preso em Presidente Kennedy atuou na limpeza urbana de Conceição de Macabu (RJ), no Norte Fluminense.
PALAVRAS DO DELATOR
1 – O intermediário no recebimento da propina era José Augusto, secretário de Desenvolvimento Econômico e marido da prefeita. Ele seria o homem que de fato mandava na Prefeitura”.
2 – Amanda e José Augusto também exigiram que todos os funcionários da empresa fossem indicados por eles.
3 – O dinheiro era repassado no escritório da empresa em Kennedy, estradas, postos de gasolina ou em locais ermos. Em algumas ocasiões, quando José Augusto se encontrava em viagem, o dinheiro chegou a ser entregue a própria prefeita.
4 – Os encontros para o pagamento de propina sempre foram intermediados pelo então secretário de Meio Ambiente Leandro Rainha. Ele também passou a exigir um pagamento mensal. A partir desta exigência, além da propina de José Augusto e da Prefeita, o empresário também passou a pagar um valor fixo, variando de R$ 3 mil a R$ 4 mil ao secretário.
5 – Depois que Leandro Rainha deixou a pasta de Meio Ambiente para assumir a secretaria de Assistência Social, os repasses foram mantidos, mas o novo secretário da pasta, Maycon Vapasso Almeida, também passou a exigir pagamento de propina.
6 – O delator pagou a reforma do telhado da casa de Maycon, que teve um custo de R$ 10 mil. O pagamento foi em duas parcelas de R$ 5 mil. Maycon também passou a indicar pessoas que deveriam ser contratadas pela empresa de limpeza urbana.
7 – José Augusto afirmou ao delator que parte da propina que recebia da limpeza urbana era repassada aos vereadores para que a Prefeita mantivesse o controle do legislativo.
8 – Alguns dos nomes que José Augusto indicava para contratação na empresa de limpeza urbana eram indicados por vereadores.
9 – No dia da deflagração da Operação Rubi, o empresário pretendia esconder parte do dinheiro da propina em uma máquina de lavar roupa.
10 – Após firmar acordo de delação premiada que foi homologado, o empresário deixou a prisão em junho do ano passado. A Prefeita Amanda Quinta e o marido José Augusto também já deixaram a prisão, mas estão afastados da Prefeitura.
OUTRO LADO
Em entrevista ao jornal A Gazeta, o advogado de Amanda Quinta e José Augusto, Altamiro Thadeu Frontino Sobreiro diz que não teve acesso ao conteúdo da delação premiada do empresário. Por isso, segundo ele, não poderia comentar o caso.
O advogado Ludgero Liberato, que defende o ex-secretário Leandro Rainha, diz que o seu cliente é inocente. Ele também alega que já pediu acesso ao conteúdo da delação, mas que até o presente momento ainda não conseguiu.
Os advogados do empresário Marcelo Marcondes Soares e Maycon Almeida não foram localizados.