Em Campos (RJ), maior cidade do Norte Fluminense, com 500 mil habitantes, a Concessionária Águas do Paraíba, do grupo Águas do Brasil, nada de braçada.
A cidade é a joia da coroa, proporcionando o maior lucro no comparativo entre todas as empresas do grupo, porque anualmente a concessionária é compensada com os maiores índices de reajustes, sempre acima da inflação.
A tratamento vip é observado em todas as administrações desde 1999, quando a empresa passou a atuar no município por obra do então prefeito Sérgio Mendes.

No ano passado, quando a inflação acumulada em 12 meses, com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, foi de 4,52%, o reajuste autorizado pela Prefeitura para Águas do Paraíba foi de 10,39%, bem acima do índice inflacionário.
A permissividade sangra o bolso do consumidor e permite uma rentabilidade para a empresa que afronta a realidade financeira da cidade, que enfrenta uma crise sem precedentes. Segundo balanço divulgado pela empresa no ano passado, o lucro líquido em 2019 (livre de qualquer despesa) foi de R$ 52,7 milhões.
No mesmo período a empresa contabilizou uma reserva de R$ 66 milhões e um aplicação financeira de R$ 10 milhões para obter lucros no mercado financeiro.

Este ano, para uma inflação projetada entre 3,75% e 5,25%, a concessionária ganhou um reajuste de 7,14%, mais uma vez acima da inflação. Enquanto ganha dinheiro, Águas do Paraíba desrespeita impunemente todos os cronogramas de investimentos. Ainda assim, ganhou a ampliação de prazo de exploração do contrato de concessão, sem licitação.
Só que este ano tem uma pedra no caminho: o Portal VIU! lançou uma campanha para revogação do decreto que reajusta a tarifa de água e esgoto na cidade. A prorrogação do contrato também será objeto de uma ação judicial.
CAMPANHA EM CURSO
A campanha “Revoga Já” lançada por VIU! está na primeira etapa e no atual estágio visa o esclarecimento da população e sensibilização do prefeito Wladimir Garotinho (PSD) no sentido de rever o reajuste concedido por meio de decreto no apagar das luzes do governo do ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania).
Na última quinta-feira (15), o Portal realizou um programa ao vivo, transmitido no Facebook, na porta da concessionária, na área central.
O programa que já atingiu quase 10 mil visualizações, cerca de 150 comentários e teve cerca de 200 compartilhamentos, contou com a participação de consumidores que relataram as mazelas da concessionária, além de internautas que criticaram a omissão da administração municipal diante dos abusos da operadora.
Na próxima semana, mais um programa será realizado na porta da empresa. A iniciativa tende a evoluir para adesivação de carros, panelaços e acampamento em locais estratégicos.
A privatização dos serviços de saneamento em Campos é um tema espinhoso para a população e agora constrange o prefeito Wladimir Garotinho, que foi eleito em 2º turno, graças aos votos da periferia. Com 15 dias de governo ele é instado a adotar uma postura mais rígida ante aos abusos da concessionária, revogando o decreto do antecessor. Ele, no entanto, mantém um silêncio e por isso está sendo duramente criticados nas redes sociais.
HISTÓRICO DA PRIVATIZAÇÃO
A empresa Águas do Paraíba entrou no serviço de saneamento na cidade a partir de 1999, substituindo a Cedae. Em todos esses anos a concessionária se gaba de ter aumentado a oferta de água na cidade, mas esconde da população que para ampliar os serviços de saneamento obteve financiamento de R$ 9,7 milhões do BNDES. Foi dinheiro público na veia, liberado em 2008.
O serviço de esgoto é uma calamidade pública. A cidade ainda com vive com esgoto jorrando nas ruas. Ainda assim a população paga a tarifa mais cara do Brasil. Se a tarifa de água custa R$ 200, por exemplo, a conta vem cobrando R$ 200, por conta da taxa de esgoto.
Esta concessionária foi criada a partir de um consórcio formado pelas empresas Queiroz Galvão, Carioca Engenharia, Cowan, Trana e Developer. O grupo também explora o saneamento nos municípios de Niterói, Petrópolis, Saquarema, Araruama e Silva Jardim.
Pelo menos duas empresas do consórcio (Queiroz Galvão e Carioca Engenharia), estão envolvidas na Operação Lava-Jato. Executivos das duas empresas, em delação premiada, confessaram ter pago propina a agentes públicos. Um dos delatores, Rodolfo Mantuano, foi diretor-superintendente de Águas do Paraíba em Campos.
Com todo esse histórico perverso, a concessionária se beneficia de uma relação promíscua com o poder executivo, legislativo local e um mensalão que alimenta alguns veículos de comunicação local.