Pré-candidato à Presidência da República em 2022, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) está tentando flertar com o eleitorado evangélico e a centro-direita, por isso gravou um vídeo recente segurando em uma das mãos uma bíblia e na outra a Constituição Federal.
A avaliação é da analista Graziella Testa, da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em entrevista à agência de notícias Sputnik News.
A iniciativa, segundo ela, é uma tentativa de atrair um nicho de eleitores que Ciro ainda não tem.
“Ao que tudo indica, a estratégia do Ciro Gomes está sendo alargar o espectro político de voto dele. Isto está sendo um pouco delicado na política brasileira por conta deste processo e polarização, mas o que Ciro está buscando é um eleitorado que ele ainda não tem, o que é um movimento natural para um candidato que já tentou, mas não conseguiu se eleger”, comentou.
Ciro não é o único a tentar cativar o eleitorado evangélico. Este foi o caminho que o petista Luiz Inácio Lula da Silva seguiu ao longo de suas tentativas de tornar-se Presidente.
Mas agora, com esta iniciativa, Ciro tenta seguir o receituário e ao mesmo tempo se aproximar de um eleitorado que é tradicionalmente bolsonarista.
EFEITO MANOEL FERREIRA
O vídeo do pedetista com a bíblia foi gravado logo após Lula se encontrar no Rio de Janeiro com o pastor Manoel Ferreira, líder da Igreja Assembleia de Deus, uma das maiores denominações evangélicas do país.
Este movimento, ainda que não atraia os eleitores evangélicos para Ciro Gomes, poderá contribuir para fragmentá-lo.
“Tendemos a alocar os evangélicos como se votassem em conjunto em todos os momentos, em todos os casos. Existe uma estrutura de algumas igrejas evangélicas muito consolidadas que ajuda a orientar o voto, sobretudo em relações proporcionais. Mas a eleição para a Presidência da República é menos dominada por esses grupos”, disse Graziella.
“Há inclusive a possibilidade de haver um racha entre o que alguns evangélicos consideram ser o melhor para o país e o que outros considerem ser outra ideia”, destacou.
Só que o namoro do pré-candidato do PDT com esses segmentos terá um efeito colateral: ele tende a perder o eleitorado de centro-esquerda, um cálculo que ele já deve ter feito ao analisar o vácuo que existe na centro-direita.
A estratégia seria ocupar um espaço deixado pelo PSDB, já que o governador de São Paulo João Dória, que postula candidatura pela legenda, só deve investir neste projeto caso tenha chances reais de vitória.