O Brasil vive um momento que no mínimo pode ser classificado como complexo, fruto de uma crise que mistura elementos políticos e econômicos para a qual não se vislumbra uma saída de curto prazo.
Até aqueles setores econômicos que se jogaram de cabeça na eleição do presidente Jair Bolsonaro, agora esboçam um ar de perplexidade frente à incapacidade do novo governo de explicitar qualquer medida de incentivo à produção econômica.
Desde o início do ano o que tem se visto é apenas o aprofundamento do desmanche iniciado durante o governo de Michel Temer, atingindo segmentos da economia que ainda conseguiam dar um mínimo de dinamismo a uma economia completamente estagnada desde meados de 2015.
Para piorar o cenário interno, a pauta, digamos, ideológica do governo Bolsonaro já criou uma série de embaraços na esfera internacional que apontam para um isolamento do Brasil em diversas esferas, a começar por uma que é cara aos apoiadores de primeira hora da candidatura do capitão reformado. Falo aqui do latifúndio agroexportador e de sua poderosa bancada no congresso nacional.
Uma das áreas que estão criando arestas que poderão trazer consequências desastrosas para o Brasil é a do meio ambiente, pois na ânsia de atender os setores mais duros de seus apoiadores ruralistas, o presidente Bolsonaro nomeou para dois ministérios estratégicos personagens que estão implementando retrocessos significativos na busca de modelos agrícolas que combinem maior produtividade com a ampliação da sustentabilidade ambiental.
Falo aqui dos ministros da Agricultura, Tereza Cristina, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Graças à atuação deles na liberalização de venenos agrícolas e no desmantelamento das estruturas de proteção ambiental, o Brasil está hoje correndo sérios riscos em relação aos seus principais parceiros comerciais que estão adotando caminhos opostos no tocante à adoção de modelos mais sustentáveis de produção agrícola.
A verdade é que ao apostar no avanço de um modelo ultrapassado que combina contaminação com desmatamento, o governo Bolsonaro corre o risco de matar a galinha dos ovos de ouro, que são as commodities agrícolas brasileiras, e agravar ainda mais a recessão econômica.
Um sinal de que estamos caminhando para um perigoso processo de isolamento internacional foram dois cancelamentos de viagens que ocorreriam por motivos diversos, mas que colocados em perspectiva, mostram que a coisa não vai nada bem para o Brasil.
O primeiro cancelamento foi o da viagem que o próprio presidente Jair Bolsonaro faria aos EUA onde iria receber em Nova York um prêmio concedido pela Câmara de Comércio Brasil – Estados Unidos.
O motivo para tal cancelamento foi a crescente oposição política a que o presidente brasileiro pudesse sequer ir à Nova York em função de suas posturas ideológicas. Outro expoente do governo federal que de forma pratica simultânea resolveu não sair do território nacional para não ter que dar explicações foi o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Nesse caso a decisão se deveu à publicação de uma carta assinada por 602 pesquisadores europeus na prestigiosa revista científica Science, onde os signatários demandaram que a União Europeia exija do Brasil claros compromissos com a sustentabilidade ambiental e o respeito aos povos indígenas para continuar comprando produtos brasileiros.
Algo que deveria ficar claro, mas dificilmente ficará, para o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros é que sua agenda política não é bem vinda em muitos países. E essa rejeição criará, como já está criando, uma série de bloqueios para aqueles que queiram ter algum tipo de relação econômica e política com o Brasil.
E como em muitos países já existem problemas suficientes para ser resolvidos, a opção que muitos tomarão será por não ter qualquer coisa a ver com o governo Bolsonaro, independente das vantagens relativas que a compra de commodities brasileiras possam significar.
É que entre o alto custo político e a economia de alguns trocados com commodities baratas, os países que hoje compram do Brasil começarão a procurar alternativas e optarão por nos virar as costas.
E não podemos esquecer que independente de querelas ideológicas, a Rússia já sinalizou que suspenderá a compra da soja brasileira se não for diminuída a contaminação pelo agrotóxico Glifosato.
Nesse caso, temos o que se chama de uma “tempestade perfeita”, pois a junção de elementos políticos com questões concretas do sistema produtivo nos empurra para uma inviabilização da nossa principal commodity agrícola em seus principais mercados. É que seguindo o exemplo russo, outros países deverão seguir o mesmo caminho de rejeição aos produtos brasileiros.
A única forma de se evitar essa tempestade perfeita seria o presidente Jair Bolsonaro decidir dar o que popularmente se denomina de cavalo de pau e reverter as ações tomadas em áreas nevrálgicas, a começar pelo meio ambiente, de modo a apaziguar os ânimos em relação ao Brasil.
Entretanto, como apaziguamento nunca foi o forte do novo presidente brasileiro ao longo de quase 30 anos de atividade parlamentar, o mais provável é que o curso iniciado em janeiro seja mantido, o que tornará inevitável que o encontro com a realidade seja mais duro e drástico do que estou prognosticando. É que, como diz a primeira “Lei de Murphy”, não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar.