A Justiça de São Paulo determinou o pagamento de uma fiança no valor de R$ 22 mil para soltar a motorista da BMW presa pela polícia por atropelar e matar um motoboy, na madrugada deste domingo (27), no Cambuci, Zona Sul da capital paulista.
Ela ainda feriu outro entregador no acidente, que teve diversas fraturas pelo corpo e está internado em estado grave. Uma câmera de segurança gravou o acidente
A mulher foi solta na tarde deste domingo (27) sem pagar a fiança. Ela tem o prazo de cinco dias para fazer o pagamento.
A decisão para que a motorista responda em liberdade foi do juiz Luis Gustavo da Silva Pires, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ). O magistrado não realizou a audiência de custódia em razão da pandemia de coronavírus.
A dentista Danielle Piorelli Almeida Diniz, de 42 anos, foi presa em flagrante pela Polícia Militar (PM) e indiciada pela Polícia Civil pelos crimes de homicídio e lesão corporal culposos (respectivamente, sem intenção de matar e de machucar).
Ela perdeu o controle do carro que dirigia e atropelou e matou o motoboy Vinícius Rodrigues de Oliveira, de 21 anos, e feriu o também entregador, Ygor Santos de Jesus, de 26.
A reportagem apurou que, além de arbitrar a fiança, o magistrado determinou que a motorista cumpra as seguintes medidas cautelares para ser solta: comparecer mensalmente à Justiça; informar seus endereços; não sair da cidade por mais de oito dias; e permanecer recolhida dentro de sua casa entre 22h e 6h.
Segundo a decisão do juiz, a indiciada é ré primária e não se mostrava plausível, neste momento, considerando a pandemia de Covid, que ela continuasse detida.
Os entregadores estavam em frente a uma distribuidora de bebidas que faz entregas por delivery. Em nota, o aplicativo Zé Delivery, que intermedeia as entregas, disse que “está profundamente triste com o acidente envolvendo um de seus parceiros na noite passada” e que, desde que comunicada da ocorrência, está em contato com a família do motoboy.
Já a empresa Dan Boys Express Entregas Rápidas LTDA, para qual os entregadores prestavam serviço, declarou em nota que “está profundamente consternada com o acidente com seus entregadores na noite deste sábado e segue prestando todo o apoio aos familiares”.
A empresa afirma ainda que “não medirá esforços para colaborar com as investigações das autoridades para que o caso seja esclarecido e os envolvidos respondam devidamente pelo ocorrido”.
Vídeo gravou acidente

Vídeo gravado por uma câmera de segurança mostra o momento que a BMW dirigida pela dentista Danielle atropela e arrasta uma fileira com sete motos estacionadas por volta da 1h30, na Rua Basílio da Cunha. O veículo ainda derruba árvores e atropela dois motoboys sobre a calçada.
O motoboy Vinícius morreu no local. O outro motoboy, Ygor, foi socorrido com ferimentos e acabou levado ao pronto-socorro do Hospital São Paulo, na capital. Segundo motociclistas ouvidos pela reportagem, o estado de saúde dele era considerado grave. Ele teve fraturas no rosto e pelo corpo.
Ainda de acordo com testemunhas, a mulher dirigia em alta velocidade. O limite máximo para a via é de 40km/h. Segundo a polícia, a condutora do veículo não prestou socorro às vítimas. O boletim de ocorrência do caso informa que ela também negou que tivesse bebido antes, mas se recusou a fazer o teste do bafômetro, que mede dosagem alcóolica (leia mais abaixo).
A dentista Danielle foi presa em flagrante pela Polícia Militar (PM) e acabou levada ao 8º Distrito Policial (DP), Brás, no Centro, onde foi indiciada. Depois seguiu para a carceragem do 89º Distrito Policial (DP), Portal do Morumbi, na Zona Sul.
Motoboys falam do acidente

Segundo um motoboy que viu o acidente relatou à polícia, ele ouviu a BMW “‘cantando pneu’ na curva, gritou para os colegas e se afastou” para não ser atingido pelo veículo. De acordo com ele, a motorista e um homem que apareceu para ajuda-la tentaram fugir do local sem prestar socorro às vítimas, mas foram impedidos pelos outros motociclistas. Esse rapaz que ajudou a condutora estaria dentro do veículo, no banco do carona, no momento do acidente, segundo a testemunha.
“Essa mulher veio toda desgovernada lá debaixo, sem freio, praticamente. Pegou todo mundo aqui”, disse à reportagem o motoboy William Henrique, que conseguiu escapar do atropelamento ao pular nos arbustos.
“Por ser uma curva também [o local do acidente], nós estamos expostos a isso daí [o risco de serem atropelados por algum veículo”, falou Wesley Teixeira, que também trabalha como entregador.
O que dizem a defesa e a motorista
Procurado para comentar o assunto, o advogado César Augusto Suman, que defende a motorista Danielle, afirmou que o atropelamento dos motociclistas “foi uma tragédia” e classificou o acidente como “lamentável, que poderia acontecer com qualquer um.”
O advogado ainda falou que sua cliente não dirigia sob efeito de bebida alcoólica e que ela toma remédios controlados. “Está consternada, em estado de choque.” Segundo ele, a dentista “não assumiu que ela estava em alta velocidade”. César comentou também que a defesa está disponível “para auxiliar as vítimas.”
Em seu interrogatório à polícia, Danielle contou sua versão para o acidente. Segundo a motorista, ela estava com amigo em sua casa e depois pegou sua BMW para deixá-lo na residência dele. Mas como os dois discutiram durante o trajeto, ela o deixou no meio do caminho. Depois seguiu com o veículo.
De acordo com as informações do boletim de ocorrência do caso a partir do relato da dentista na delegacia, ela contou que dois motivos podem ter provocado o atropelamento. Um foi “sua sandália, que se rompeu e não sabe se isso pode ter atrapalhado” no momento de acionar os pedais do carro. Outro motivo, seria o fato de que ela “se assustou com uma motocicleta que saiu e também não sabe se isso pode ter causado o acidente.”
Ainda segundo Danielle, ela “nunca bateu o carro” antes. No registro policial, a dentista falou que “tudo aconteceu muito rápido, que só foi perceber que tinha atropelado pessoas e colidido em árvores quando desceu do veículo”.
Amigo da motorista
O amigo da dentista também foi ouvido pela polícia. Ele confirmou que estava na casa de Danielle com ela. E que depois a dentista o levava no carro dela para a residência dele, quando os dois discutiram durante o caminho. O homem contou que desceu da BMW da amiga, que seguiu de carro.
Depois ele contou ter ouvido o barulho de uma batida e correu até o local, onde viu motoboys em volta do automóvel de Danielle. Falou ainda que ajudou a amiga a sair do veículo e a colocou sentada na calçada. Enquanto isso, segundo o amigo, alguns motoboys entraram no carro e pegaram a bolsa da dentista, onde tinha cerca de R$ 2 mil em dinheiro e outros pertences.
Prisão em flagrante
A Polícia Civil entendeu que a motorista da BMW “não prestou pronto e integral socorro” às vitimas. E diante do interrogatório da condutora e depoimentos das testemunhas, decidiu prender Danielle em flagrante pelos crimes de atropelar, matar e ferir pessoas mesmo que não tivesse tido a intenção de cometê-los.
Segundo o delegado do caso, a manutenção da prisão se dá em razão de as penas somadas do homicídio e lesão culposos serem superiores a 6 anos de detenção. Nesse caso, não caberia a polícia arbitrar fiança para soltá-la.
A investigação do caso será feita pelo 6º DP, Cambuci, segundo informou a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP). De acordo com a pasta, a polícia ainda solicitou exames periciais para os institutos Médico Legal (IML) e de Criminalística (IC). Os resultados ainda não ficaram prontos.
As informações são do G1.