Ainda que a Organização Municipal de Saúde (OMS) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomendem a prescrição da hidroxicloroquina, cloroquina e ivermectina como medicamentos preventivos à covid-19, um médico da rede pública de saúde na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), Norte Fluminense, está receitando este tratamento precoce.
Uma reportagem do jornal local Terceira Via denuncia que o médico Guilherme Rangel, diretor da Unidade Pré-Hospitalar de Travessão (distrito do Município), assinou várias receitas prescrevendo o chamado “Kit Covid” para os pacientes.
As receitas recomendam a combinação dos três medicamentos, cuja eficácia já foi descartada com base em testes científicos.
Guilherme Rangel tem 68 anos de idade. O tempo de profissão indicaria uma vasta experiência, mas sua opção pelo “Kit Covid-19”, além de afrontar as recomendações da OMS, também reflete uma descrença nas vacinas, recurso para o qual ele admite ter um ceticismo.
Em junho deste ano, o clínico-geral de Travessão chegou a relatar um aumento de casos suspeitos de Covid na comunidade nos meses de abril e maio.
“Eu adquiri Covid-19. Este protocolo é meu. Tenho autonomia e assumo a responsabilidade. Tenho gratidão por salvar vidas. Não tenho dúvida de que funciona a combinação de remédios, pois há relatos e estudos em vários países. Tenho coragem de fazer isso por sã consciência. Sou um médico do SUS, onde a realidade é dura para tratar pacientes, sobretudo dessa doença”, comenta o médico, segundo a reportagem do Terceira Via.
Rangel não só demonstra resistência à vacina como afirma na reportagem que não pretende se imunizar.
“Não quero me vacinar. Não tenho segurança na eficácia dessa vacina desenvolvida em tão pouco tempo. Meus pacientes são livres para se vacinarem se quiserem. Defendo quem queira, mas eu decidi não me vacinar”, destaca o médico na reportagem.
PROFESSORA RECEBEU RECEITA NA REDE PRIVADA
Moradora de Travessão, a professora Shirley Beatriz Oliveira diz que em dezembro do ano passado sentiu sintomas da covid-19. Ao procurar um hospital particular, recebeu como receituário os medicamentos Azitromicina, Ivermectina e Vitamina C.
“Sou contra essas combinações, mas estava tão apavorada que tomei por sete dias. Fiz o exame para saber se estava infectada, mas testou negativo”, lembrou.
Em março de 2021, ela relatou que sentiu novamente os sintomas da doença. “Senti dor na garganta, dor na vista. Fiz um teste rápido em Travessão. Depois voltei ao hospital particular, fiz tomografia, exames e deu positivo. Me deram azitromicina, dipirona e o remédio para verme, ivermectina, mas não tomei”, afirmou, destacando que ficou com sequelas após a Covid-19.
“Fiquei com a pressão arterial muito alta. A doença mexeu com os rins, sinto muita dor de cabeça e fiquei surda por um período”, afirma, salientando que em Travessão tem ocorrido muitos casos de Covid-19.
“Conheço muita gente que, mesmo sem sintomas, tomou ivermectina e cloroquina. O médico da UPH até manda receita para as pessoas, se um paciente pede. Acho que muitas têm esclarecimento sobre a ineficácia, porém, outras preferem ouvir o médico”, explica.
Apesar da comprovada ineficácia, o Kit Covid não é barato. Custa em média R$ 300.

Por meio de nota divulgada pelo jornal, a Secretaria Municipal de Saúde informou que “o Conselho Federal de Medicina no Parecer nº 4/2020 deliberou que é decisão do médico assistente realizar o tratamento que julgar adequado, desde que com a concordância do paciente infectado, elucidando que não existe benefício comprovado no tratamento farmacológico dessa doença.
“Respeita-se a autonomia do médico na ponta de tratar, como julgar tratar seu paciente, assim como a autonomia do paciente em querer ou não ser tratado pela forma proposta. O município reforça que não estabelece nenhum protocolo de tratamento para a Covid-19 por ausência de recomendação do Ministério da Saúde”, diz um trecho da nota.
Já o Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), também por meio de nota, diz informa que “nenhuma medicação tem eficácia comprovada na prevenção da Covid-19 até o momento. Por esse motivo, opõe-se à prescrição de medicamentos sem comprovação científica de serventia no tratamento precoce do coronavírus”.