A Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio está devolvendo todo o acervo das religiões de matriz africana e brasileira que estava sob sua guarda. O material que integra o acervo conta com objetos sagrados para as religiões de umbanda e candomblé, apreendidos entre 1889 e 1945.
Para o chefe de gabinete da Secretaria, delegado Daniel Mayr, a devolução do material, que estava sob a tutela do órgão, representa um momento único, contemplando os verdadeiros donos do acervo. O material será entregue ao movimento “Liberte o Nosso Sagrado”.
“Estamos realizando a devolução espontânea dos itens a quem sempre pertenceram”, afirmou o delegado.
Para a diretora do Museu da Polícia Civil, delegada Gisele Vilarinho, a assinatura deste termo entrará para a história.
“Começou no século XVIII e, no século XXI, estamos devolvendo a quem pertence. Somos uma polícia que não reprime a religião, e sim o crime. Hoje iniciamos uma caminhada para o futuro“, afirmou.
Durante a cerimônia, que contou com a presença de delegados e integrantes do movimento “Liberte o Nosso Sagrado”, a representante do candomblé, Mãe Meninazinha, ressaltou que o ato é um momento de emoção, após muitos anos de luta para que o acervo retornasse a quem pertence de direito.
“Só tenho agradecer. Estamos juntos hoje para receber o nosso sagrado. Meu muito obrigada” disse a religiosa.
Entre o acervo devolvido com mais de 200 itens estão as imagens de entidades, atabaques, cachimbos, vestimentas e outros que foram confiscadas a mais de cem anos.
ENTENDA O CASO
Esses objetos estavam sob a custódia da Polícia Civil, porque artigos do Código Criminal de 1890 e do Código Penal 1942 proibiam práticas como “o espiritismo, a magia e seus sacrilégios” e o “curandeismo”. Por conta disso, vários terreiros foram alvos de batidas da Polícia até a década de 1940.
Os objetos estavam expostos no Museu da Polícia Civil, onde por muito anos funcionou o Departamento de Ordem Política Social (DOPS), no Centro do Rio de Janeiro, como peças de “magia negra”, adjetivo que por muitos anos serviu para depreciar as religiões de matriz africana.