Morte de mais um paciente expõe precariedade, sujeira e suspeita de negligência no HGG;
Da redação
O representante comercial, Márcio Martins, acompanhou seu pai, o mecânico Jones Martins, o Faustão, de 71 anos, para uma cirurgia de vesícula em novembro do ano passado. O paciente sentia dores abdominais, mas chegou caminhando ao Hospital Geral de Guarus (HGG), na cidade de Campos dos Goytacazes, no interior do Estado do Rio.
O que seria a busca por atendimento médico transformou-se numa rotina dolorosa, até a morte consumada na terça-feira, dia 2 de janeiro. Foram 46 dias dentro da unidade testemunhando precariedade nos serviços (veja galeria de fotos), sujeira e demonstração de negligência com pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). VÍDEO:
Os relatos reforçam o conteúdo de uma reportagem investigativa intitulada “As mortes no HGG”, compartilhada pelo Portal VIU! em 7 de setembro do ano passado. Ao mesmo tempo desmonta o ufanismo governista na semana em que o prefeito Rafael Diniz gravou um vídeo no Facebook afirmando que a saúde nos últimos 12 meses de governo avançou. A reportagem de VIU! destacava já no ano passado, o aumento no índice mortes na unidade no primeiro semestre, atribuindo a situação, entre outras coisas, a precariedade dos serviços e falta de material para atendimento aos pacientes. O quadro, pelo visto, piorou.
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“Estão reciclando até sacos de resíduo hospitalar. A sujeira na enfermaria é um foco para proliferação de bactérias e na janela o mato toma conta, o que provoca uma invasão de insetos durante a noite”, destaca Martins, que fez um Boletim de Ocorrências na delegacia denunciando negligência com o pai, além de fotografar besouros e moscas varejeiras.
Proprietário de uma oficina mecânica próximo ao Estádio do Goytacaz Futebol Clube, na área central, há 46 anos, Faustão foi diagnosticado com pedra na vesícula. Seria submetido a uma cirurgia para extração, mas o procedimento foi adiado porque ele apresentava taxa de glicose alta e pressão arterial alterada.
Ficou internado para estabilizar o quadro de saúde, mas enfrentou complicações. Dois dias depois estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficaria respirando com ajuda de aparelhos até a segunda quinzena de dezembro.
“Ele voltou para enfermaria por ordem médica, sob alegação de que precisava respirar outros ares, mas as condições de higiene são indescritíveis. Uma loucura”, disse.
LUTA PELA VIDA
O relato traduz uma luta interminável entre o natal e o ano novo para salvar a vida do pai. Fora da UTI, Faustão chegou a apresentar um quadro de 40 graus de febre. O paciente só voltaria a UTI graças a intervenção de um diretor, que teria se sensibilizado com o pedido do próprio Martins para que examinasse o paciente. “Ao avaliar o quadro, a decisão foi imediata: meu pai voltou para a CTI, mas era tarde. No dia 2 de janeiro ele morreu”, lembra.
Prefeito de Campos-RJ Rafael Diniz ao lado do presidente Michel Temer, seu modelo de gestor, em recente visita ao Porto do Açu, em São João da Barra-RJ
A saúde na cidade de Campos apresenta um quadro caótico. A precariedade cresce na mesma proporção em que o governo aumenta os gastos com iniciativas secundárias, como a contratação de uma empresa, por dispensa de licitação por mais de R$ 4 milhões, para administrar o Aeroporto da cidade.
Enquanto isso, nos hospitais e postos de saúde faltam insumos básicos, como seringa, agulha, luvas e esparadrapos. O governo surfa diante da inércia dos órgãos de controle externo.