Aos 31 anos, a assistente social formada pela UFF, Natália Soares, é a pré-candidata do PSOL à Prefeitura de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.
Com apoio da Unidade Popular (UP), legenda que conseguiu registro junto ao TSE recentemente e que indicará a designer Bruna Machel como vice na chapa, ela chega como um ponto fora da curva em um ambiente até então dominado por homens.
Natália é professora de filosofia, além de mestre e doutoranda em políticas sociais.
O PSOL e a UP formam na cidade uma frente de esquerda, com uma chapa literalmente feminina e segundo, a pré-candidata, “disposta a “romper com o conservadorismo e hereditarismo dos coronéis na política campista”.
“Os conversadores não suportam ver mulheres na disputa pelo poder”, alfineta. Confira entrevista:
VIU! – O PSOL já anunciou a coligação com a UP para as eleições. Existe conversas com outros partidos para ampliar a frente de esquerda?
Natália Soares – Aprovamos uma resolução que mantém o PSOL aberto para dialogar com outras forças políticas de esquerda na cidade. Estamos conversando com algumas, mas, por enquanto, não temos nada fechado ainda.
VIU! – Qual é a avaliação sobre o momento político da cidade?
Natália – Esta não é uma campanha que possa ser tocada nos moldes tradicionais. É um contexto adverso de pandemia e isso nos impede de reunir as pessoas em encontros e discutir propostas em grupos maiores. E por isso é preciso nos reinventar e, ainda assim, construir o programa baseado em escutas, de forma democrática e plural. Para além disso, Campos com seu passado/presente escravocrata e conservador, demonstra tendências também encontradas em todo o país, como um avanço da direita fascista, extremista que quer silenciar quem pensa de maneira diversa e a moralização da política. Os conversadores não suportam ver mulheres na disputa pelo poder.
As mulheres mais bonitas são aquelas que lutam; companheiras de luta e de vida!!! Setorial de mulheres do PSOL com a…
Posted by Camila Girassol on Sunday, May 12, 2019
Fonte: Facebook
VIU! – E a participação feminina e o avanço do bolsonarismo?
Ter 16 pré-candidatos à prefeitura e só 2 candidaturas serem femininas demonstra o quadro que estamos apresentando. Além disso, identifica-se a presença de candidaturas laranjas de mulheres somente para cumprir a cota prevista na lei, a fim de que, no final, homens sejam eleitos. Um absurdo! O contexto político também é anticientificista, despreza a produção científica e acadêmica. Mas, curiosamente, espera-se a cura para a covid 19 em uma vacina que será desenvolvida através de pesquisa. Esse é um problema. Não é um contexto muito favorável à Democracia, mas estamos aqui para fazer esse contraponto e dizer que diversidade importa, que o Estado deve ser laico e que os pobres e pequenos precisam ser valorizados. Nos contextos mais adversos, é que precisamos lutar ainda mais.
VIU! – Como tirar a cidade da dependência dos royalties?
Natália – As gestões públicas anteriores fizeram uma opção econômica por priorizar a exploração extrativista do petróleo, mantendo uma grande dependência das rendas petrolíferas, ao invés de diversificar a produção, gerando emprego e renda para a população.
VIU! – Sobre a Transição econômica…
Natália – Royalties e participações especiais inseriram Campos dentro do cenário nacional como uma das cidades de maior pujança financeira. No entanto, as rendas petrolíferas são instáveis, provenientes de um recurso finito, o que compromete o bom planejamento do município a longo prazo. Basicamente, transitamos de uma grande dependência da monocultura da cana de açúcar para a dependência dos recursos provenientes da exploração do petróleo. Importa dizer que a indústria do petróleo, ao contrário do que se alegava, jamais foi capaz de absorver a força de trabalho dos “sobrantes de cana”, já que se trata de um trabalho altamente tecnologizado. Assim, a massa da classe trabalhadora campista é constituída da força de trabalho advinda da lavoura da cana de açúcar, os pequenos produtores rurais, pescadores, entre outros. Um público diverso e ainda de baixa escolaridade.
VIU! – E a distribuição de renda?
Apesar de termos vividos cenários de grandes arrecadações através das participações especiais e royalties do petróleo, tal recurso nunca retornou para a população através de serviços públicos eficientes e eficazes, como saúde, educação, emprego, entre outros. Dessa forma, entendemos que é preciso fortalecer e reconhecer as potencialidades do próprio município, diversificando a economia, valorizando os pequenos agricultores familiares, a pesca, apoiando cooperativas populares ao invés de grandes empresas, investindo na economia solidária, na movimentação interna, priorizando esses grupos nas ações políticas. É necessário gerar trabalho e renda dentro do próprio município, sem a dependência das grandes indústrias de fora que, potencialmente, contribuiriam para economia do município, mas, que num cenário de longo prazo, não produzem o mesmo efeito que um empreendimento dirigido localmente, tanto em termos de emprego e renda quanto de tributação. O passado e o presente nos dizem muito sobre a relação dos empreendimentos que rompem as fronteiras do município, como a cana e o petróleo, deixando em diversos momentos o município “órfão” dos recursos”.
VIU! – Como foi a escolha da vice?
Natália – É a Bruna Machel, da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), designer e assessora de comunicação da Aduenf (Associação dos Docentes da Uenf). É uma companheira que constrói sua história nas lutas populares, sempre muito atuante no município, como, por exemplo, na defesa incisiva da reabertura restaurante popular, mobilidade urbana e assistência social. É firme e coerente, se pautando pela justiça social. Estamos orgulhosos com a essa união.