Estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, passaram mal na tarde desta sexta-feira (8).
Com falta de ar, tremor e crise de choro, os alunos foram socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que informou que 26 alunos tiveram “crise de ansiedade”. Nenhum deles precisou ser levado para o hospital.
Por nota, o Samu informou que 16 profissionais em seis ambulâncias e duas motocicletas foram mobilizados para o atendimento. As informações são do g1.
“Os jovens apresentaram sudorese, saturação baixa e taquicardia, foram atendidos no local e não precisaram de remoção para unidades de saúde”.
Pais preocupados
A comerciante Luciana Amorim, de 42 anos, ficou assustada quando o filho contou o que aconteceu na escola.
“Ele contou que tinha vários alunos passando mal e que estavam dizendo que era crise de ansiedade. Havia alunos deitados, tremendo, desmaiados”, disse .
Segundo a comerciante, o filho, que tem 15 anos, não sentiu nada e foi liberado para ir para casa.
“Eles fizeram uma refeição entre 15h e 15h30. Depois disso, começaram a passar mal. Falta de ar, muito choro, desmaio. De 15 a 20 alunos deitados no chão passando mal”, contou.
Ela disse que ficou impressionada ao saber do diagnóstico.
“A gente não sabe, mas essa pandemia está mudando tudo e a gente fica sem saber. Para dar uma ansiedade em geral, é uma coisa muito nova. Na verdade é assustador”.
Especialista explica
A psicóloga Anna Paula Avelar, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), disse que é impossível não relacionar o que aconteceu na escola com a pandemia da Covid-19.
Para ela, alguns fatores “encadeados” podem ter servido de motivo para que os estudantes tivessem crise de ansiedade.
“Um gatilho acionou uma crise de ansiedade coletiva. Em qualquer situação de crise social muito severa, isso pode acontecer. Essa volta às escolas foi como se tivesse sido um período de férias, mas não foi. Foi uma parada grave, uma crise social grave. Então, não existe um fator único”, detalhou.
Anna Paula lembrou que os alunos voltaram a estudar presencialmente após muito tempo tendo aulas e provas remotas e que eles voltaram a ter as mesmas cobranças de antes da pandemia.
“Essa volta não foi gradual e essas cobranças não foram graduais. Alguma situação específica pode funcionar como um gatilho. Vivemos uma pandemia e esses estudantes voltaram a ter aulas e serem cobrados como antes, após quase dois anos fortemente privados desse convívio social”, disse.
A psicóloga afirmou que crises de ansiedade como a vivenciada por alguns dos estudantes servem de alerta. Ela ressaltou que é preciso escutar os sinais que o corpo dá.
“Pode acontecer em outros momentos, em outras situações, não só na escola, mas também no trabalho e em outros lugares. A ansiedade, o pânico, tudo isso, é um sinal que o corpo dá de sofrimento psíquico”, explicou.
O que diz a secretaria
Por nota, a Secretaria de Educação e Esportes informou que os estudantes receberam atendimento médico na unidade escolar e foram liberados após a chegada dos responsáveis.
A secretaria acrescentou que a escola realiza um trabalho voltou a educação socioemocional dos alunos, incluindo a orientação dos jovens e dos responsáveis sobre o tema.
‘Cenário era de filme de terror’
“O cenário era de filme de terror”, contou ao g1, neste domingo (10), o pai de uma aluna do 1º ano do ensino médio.
“Minha filha saiu da escola com uma amiga. Ela disse que o cenário era de filme de terror, com correria e tumulto. Já no ônibus, ela me ligou dizendo que tinha deixado a escola e estava indo para casa”, contou o pai, que preferiu não se identificar.
O sofrimento retornou à mente da filha dele. A adolescente de 14 anos relatou ao pai que algumas amigas estão com medo de voltar às aulas. Ainda segundo o pai da estudante, a filha não quer relembrar o ocorridoo. “Ela diz que dá agonia de lembrar, diz que o olho escorre lágrimas”, afirmou o homem.
O caso aconteceu na Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães, no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. O Samu informou que os estudantes apresentaram sudorese, saturação baixa e taquicardia e foram atendidos no local.
A mãe de uma aluna de 15 anos, que cursa o 1º ano do ensino médio, foi para a escola assim que soube do ocorrido.
“A escola não entrou em contato comigo na hora. Um colega de sala da minha filha me ligou e fui até a escola. Chegando lá, vi seis ambulâncias e, na entrada, vários adolescentes, alguns desmaiados, alguns chorando bastante”, contou a mulher.
As razões que levam a uma crise coletiva de ansiedade são, em geral, pouco compreendidas. Segundo essa mãe que conversou com o g1, mas preferiu não se identificar, a crise começou após uma estudante perder os sentidos.
“Os alunos combinaram de esperar acalmar, mas aí o desespero tomou conta da maioria porque eles tinham medo de que fosse algo mais grave”, disse a mãe de uma das alunas da escola.
A crise de ansiedade desencadeou uma reação em cadeia que atingiu várias turmas da escola. Em poucos minutos, alunos de outras salas de aula começaram a gritar, e seus gritos podiam ser ouvidos pelos corredores, segundo estudantes que presenciaram o ocorrido.
De acordo com o psicoterapeuta cognitivo-comportamental Igor Lemos, ouvido no sábado (9), alguns fenômenos na psicologia podem ser desencadeados de forma coletiva. O psicólogo apontou que existe o chamado “adoecimento partilhado”, que age como efeito dominó.

Saúde mental
Em relatório divulgado em outubro de 2021, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) projetou que crianças, adolescentes e jovens podem sentir o impacto da Covid-19 na saúde mental e bem-estar por muitos anos. Ainda segundo a instituição, essa parcela da população já carregava problemas emocionais.
O Unicef também apontou que, globalmente, mais de um em cada sete garotos e garotas entre 10 e 19 anos vivem com algum transtorno mental diagnosticado. De acordo com a entidade, a ruptura com as rotinas, a educação, a recreação e a preocupação com a renda familiar e com a saúde deixaram muitos jovens com medo, irritados e preocupados com o futuro.
Retorno dos alunos
Questionada sobre a volta às aulas dos 26 estudantes atendidos pelo Samu, a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou que o retorno acontece, normalmente, na segunda-feira (11), mas que as provas que não foram realizadas na sexta-feira (8) serão remarcadas.
O governo estadual também declarou que a escola realiza um trabalho voltado à educação emocional dos alunos, incluindo orientações dos jovens e dos responsáveis deles sobre esse tema. Ainda por nota, informou que os estudantes receberam atendimento médico na unidade escolar e foram liberados após a chegada dos parentes.