Os corpos de duas vítimas da Covid-19 que morreram na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) José Rodrigues, em Manaus, foram trocados durante a liberação, nessa sexta-feira (15). Segundo as famílias, o parente de uma das vítimas reconheceu o corpo errado e autorizou a liberação.
Manaus enfrenta colapso no sistema de saúde por conta da falta de oxigênio nos hospitais, que estão lotados devido a um novo surto da Covid-19. Mais de 30 pacientes já foram transferidos a outros estados, mas a previsão do governo é enviar mais de 200.
De acordo com a filha de uma das vítimas, Michele Oliveira, a mãe, de 59 anos, sentiu os sintomas da Covid-19 e foi internada na UPA na terça-feira (12), após testar positivo para a doença.
“Internaram ela porque a oxigenação não estava boa. Quando foi na quinta, ela teve uma pequena piora, mesmo fazendo os exercícios. Como ela era hipertensa e diabética, ela teve essa complicação e foi transferida pra urgência”, disse Michele.
A mãe de Michele foi transferida para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e ela não pôde mais acompanhar. Ela contou ainda que, após cochilar durante a manhã de sexta-feira (15), acordou e presenciou o desespero das pessoas pela falta de oxigênio na unidade.
“Estava um furdunço. Muitos pacientes estavam passando por complicação naquele momento. Eu vi correria de médicos, enfermeiros. Quando saí para ver o que estava acontecendo, vi os cilindros chegando e a agonia do pessoal. Esse pequeno atraso, que seja de cinco minutos, de 10, de 15, faz um efeito muito grande, porque não foi só a minha mãe que me deixou no momento”, lamentou Michele.
Após o falecimento da mãe, Michele deixou a UPA para resolver o funeral e enterro. Quando retornou para a unidade de saúde, os agentes funerários não encontraram o corpo.
“Quando eu cheguei para a retirada, teve um problema de não achar. Normalmente a gente vai e reconhece o corpo e uma pessoa foi lá e reconheceu o corpo da minha mãe como o da sogra dele. Quando eu cheguei, o corpo da minha mãe não estava”, disse.
Michele contou que, no momento, achou que o ocorrido teria acontecido por culpa da UPA e questionaram o que foi feito com o corpo. Os funcionários da unidade checaram em câmeras de segurança e viram que o genro de outra vítima teria reconhecido o corpo dela por engano.
“O genro, talvez no nervoso, identificou o corpo como se fosse o deles. Logo após, o pessoal da funerária que levou foi comigo e pediram desculpa pelo transtorno. A gente fica preocupado em perder o corpo de uma pessoa, mas graças a Deus foi tudo resolvido. Ficamos bem assustados, mas foi tudo resolvido”, explicou.
Michele lamentou a morte da mãe em meio ao caos na Saúde do Amazonas. “Quero chamar a atenção pelo descaso de deixarem pessoas morrerem por falta de oxigênio. A minha mãe sempre falava que tinha muito medo de morrer asfixiada. Foi justamente como aconteceu”, lamentou.
Oxigênio chegando a Manaus
Manaus recebeu, na madrugada deste sábado (16), uma carga de 70 mil metros cúbicos de oxigênio, vinda por meio de balsas da cidade de Belém. Segundo o Governo do Amazonas, a nova remessa deve garantir a “retomada do do equilíbrio do abastecimento da rede de saúde do estado para os próximos dias”.
Uma força-tarefa foi montada pelos governos estadual e federal, além de diversos outros órgãos e doadores, para enviar oxigênio para a cidade ao longo da semana. Um avião que iria à Índia buscar vacinas irá trazer oxigênio de Campinas a Manaus neste sábado.
Aviões das Forças Armadas enviaram 5 mil metros cúbicos para hospitais de Manaus nesta semana, segundo nota do Ministério da Saúde. A capital também recebeu cargas de oxigênio e doações de diversos estados e artistas, como Whindersson Nunes e Gusttavo Lima.
“Hoje nós temos um aumento significativo, extraordinário. Em menos de 15 dias, passamos de 15 mil m³ para 75 mil m³, superando a capacidade que o fornecedor tinha de produzir oxigênio”, disse o governador Wilson Lima à GloboNews, nesta sexta.
As informações são do G1.