Quase diariamente ouvimos falar dos graves problemas associados às crises simultâneas que nos afligem desafiando nossa criatividade para enfrentá-los. Me refiro ao desequilíbrio ambiental e sanitário, ou ao aquecimento global, por exemplo. Para o trabalhador, que aliás comemora seu dia em Primeiro de Maio, temos a intensificação da precarização das relações trabalhistas e o encurtamento do período de gozo de sua aposentadoria (causando forte reação na França nos dias atuais).
As crises conjuntas põem em xeque o modelo liberal de competição política, via eleições periódicas, trazendo à cena lideranças conservadoras que ganham relevo nas diversas disputas, ao redor do planeta. A via legislativa e o cretinismo parlamentar praticado por uma certa fração da ala progressista de representação política vem sendo incapaz de lidar com as enormes contradições do tempo presente, um bom exemplo é o nosso país.
O fato concreto é que, no meio disso tudo, o capitalismo velho de guerra enfrenta mais uma crise cíclica, aprofundando seu caráter contraditório entre o modo social de sua produção em larga escala, em relação ao caráter privado da apropriação dos ganhos líquidos gerados no processo produtivo na forma de lucros, juros, rendas e dividendos.
Dados disponíveis no site da CVM confirmam que, no ano de 2015, a taxa de lucro média das 300 principais empresas brasileiras veio a praticamente zero, mas nos anos subsequentes foi se recuperando aceleradamente, mediante a implantação das reformas trabalhistas e privatizações postas em prática na terra da jabuticaba.
Para enfrentar e superar a crise, nossa elite dirigente opta pela redução dos ganhos salariais da classe trabalhadora e extensão efetiva da jornada de trabalho. Com isso, segundo dados do IBGE, cerca de 95% da força de trabalho empregada formalmente ganha, no máximo, cinco salários mínimos, enquanto o salário mínimo necessário para manter uma família de quatro pessoas nas contas do DIEESE é de seis S.M.
Outro fator que atinge de cheio a classe trabalhadora é a subtração das rendas indiretas financiadas pelo orçamento público, na forma de serviços de saúde, educação, energia, transporte público, água e esgotamento sanitário a preços módicos.
O orçamento público é capturado pelos rentistas, que no Brasil tem garantida uma renda anual de 800 bilhões de reais, em juros SELIC da dívida pública federal, como foi muito bem demonstrado pelo Senador cearense Cid Gomes, deixando constrangido o presidente do Banco Central, que insiste em manter em 13,75% a taxa básica de juros e, com isso, eternizar a estagnação econômica que arrasta a atividade produtiva no Brasil.
Na crise tem-se ainda o acirramento da concorrência, associada a maior concentração (montante/tamanho) e centralização de capital (grandes firmas engolindo pequenas e médias) de capital. Aliás, como estamos observando no setor bancário no exterior.
O novo governo se elegeu prometendo mais crescimento, emprego e renda, mas tem enfrentado enorme dificuldade de implantar um programa reformista tímido esbarrando na força política de setores organizados que capturam o fundo público. Um desafio, pois se não entregar o prometido vai enfrentar um ressentimento político forte. Portanto…