Os intelectuais orgânicos do governo Welberth Rezende (Cidadania), em Macaé (RJ), sofrem de amnésia ou promovem uma má fé escancarada.
O prefeito tem repetido insistentemente que o Sistema Integrado de Transporte (SIT) e os problemas com as concessionárias de água e esgoto, que se agravaram durante a pandemia, são “heranças malditas”. Perguntar não ofende: como isso, cara pálida?
Rezende teve como antecessor, o ex-prefeito Dr. Aluízio (PSDB), cujo apoio em momento decisivo na disputa eleitoral de 2020, garantiu a vitória do atual alcaide.
Se existe herança maldita de alguém, este seria o legado de Dr. Aluízio. O discurso, portanto, reflete uma deslealdade flagrante com o antecessor.
Aliás, como vereador, Welberth foi da bancada governista e nutriu-se ao longo de oito anos de mandato dos atendimentos às solicitações de demandas que encaminhava diariamente ao governo.
Mas vamos a três fatos que desmontam a retórica que está conduzindo este governo do nada a lugar nenhum:
1 – Antes de ser prefeito, Welberth Rezende foi vereador e deputado estadual. Manteve, ao longo de toda carreira, uma relação, no mínimo, amistosa com essas concessionárias de água e esgoto, porque nunca as denunciou.
2 – Dr. Aluízio entrou em rota de colisão com a concessionária de água, a Cedae, chegando a encampar a empresa. Welberth (que já estava deputado estadual) refugou, porque não queria ruídos que afetassem os votos entre funcionários da concessionária. Já a BRK, que cuida do esgoto, o contrato foi celebrado no segundo mandato do governo Riverton Mussi e também não consta posicionamento crítico de Welberth.
3 – Já no quesito transporte ou SIT, em junho do ano passado, Welberth aumentou o valor do subsídio da Prefeitura para custear o programa de passagem a R$ 1, favorecendo quem? Acertou quem respondeu SIT. A passagem custa R$ 1, mas o custo real da tarifa é R$ 4,13, com a diferença sendo complementada pelo município.
Crise no transporte é geral
A crise no sistema de transporte urbano não é uma exclusividade de Macaé. Nas cidades da Região dos Lagos, os Procons de diferentes cidades se uniram em uma força-tarefa para denunciar o que consideram afronta aos direitos dos usuários, em função da inconstância de horários e frota em péssimo estado de conservação.
Na cidade de Campos dos Goytacazes, o sistema está literalmente em colapso. Não tem ônibus e a justiça impediu as vans de circularem em linhas exclusivas das empresas. Permissionários de vans e passageiros protestam diariamente incendiando pneus em rodovias.
No Rio de Janeiro, os usuários estão em guerra contra a precariedade dos BRTs. Já nas cidades a Baixada Fluminense, os usuários reagem a precariedade incendiando ônibus.
São evidências que o estágio de degradação do sistema de transporte no Estado do Rio, bem como em todo o Brasil, é uma herança muito mais pandêmica do que de governos. Personalizar a culpa é de uma desonestidade imperdoável.
Essas iniciativas tresloucadas de atacar o antecessor pouco antes de completar um ano de governo, demonstra que o inferninho do 4º andar está assombrado com o calendário de 2024, por mais distante que esteja e por isso transformou Dr. Aluízio em um fantasma que desperta calafrios.
O ex-prefeito, no entanto, está longe de disputas eleitorais e ainda não demonstra disposição de participar do pleito de 2022. Se dedica ao atendimento como neurocirurgião.
Mas a imagem de bom gestor permanece como resultado de um governo brilhante, que contornou duas grandes crises. A primeira delas a partir de 2017, quando as cidades da Bacia de Campos enfrentaram queda de arrecadação por conta da depreciação na cotação internacional do barril do petróleo e desmobilização de investimentos da Petrobras.
O governo manteve todos os programas sociais intocáveis e não autorizou reajuste de impostos e tarifas, congelando despesas para o contribuinte.
Na Bacia de Campos, foi o defensor da redução de parcelas de royalties sobre a produção de plataformas de petróleo que estivessem paralisadas e voltassem a produzir, fator que foi determinante para a retomada de investimentos, conforme é possível conferir na entrevista acima, gravada pelo Portal VIU!, em junho 2017.
A segunda crise se deu com a pandemia da covid-19, já em 2020, quando adotou medidas rápidas e eficientes para conter a propagação da pandemia no município, iniciativas duras e ações mitigadoras para atenuar os efeitos sociais e econômicos.
O arcabouço dessas medidas continuam de pé na atual gestão, é bom que se diga, ainda que Welberth Rezende tenha revogado decretos de medidas protetivas contra a covid-19. O que existe de relevante em termos de programa social no município vem da gestão Aluízio. Por isso, não dá, simplesmente, para apagar esse legado.
Welberth Rezende sempre foi uma figura ponderada e deve ter muito cuidado com a investida belicistas, porque conspurca o seu perfil. Isso não bom. Vai conduzi-lo ao que chamaria de uma “criminosa, grotesca, sofrida e imprevisível caminhada em busca” do poder a qualquer custo.
Com pouco mais de um ano, o governo de Welberth Rezende ainda não conhece problemas. Eles ainda virão e serão muitos, por isso, não dá para antecipar brigas e picuinhas, porque governo que não ajunta, espalha.
*A frase “criminosa, grotesca, sofrida e sempre gloriosa caminhada em busca de uma grande luz”, foi inspirada no texto de uma peça de Teatro do dramaturgo Fernando Rossi. O texto original é: “A criminosa, grotesca, sofrida e sempre gloriosa caminhada de Alqui Caba La Silva em busca da grande luz”.