Cuidado ao celebrar: a grotesca remoção hospitalar do ex-governador Anthony Garotinho para o presídio de Bangu serve a interesses obscurantistas
Não tenho nenhuma simpatia pelo tipo de política praticada pelo senhor Anthony Garotinho, e durante seus anos no Palácio Guanabara fui um crítico ferrenho de suas práticas, o mesmo tendo acontecido quando sua esposa, Rosinha Garotinho, foi governadora.
Agora, se alguém acha que estou celebrando a forma despudorada como ele foi retirado do Hospital Souza Aguiar, se engana rendondamente. Além de se colocar sua vida em risco ao ser removido, quando estava sendo monitorado por problemas cardíacos que são de conhecimento geral, a colocação de membros da mídia corporativa para transmitir o espetáculo que foi meticulosamente preparado deve ser motivo de completo repúdio por quem deseja que haja um avanço nas práticas policiais no Brasil.
É que se fazem isso com uma personalidade política conhecida como Anthony Garotinho, o que dizer do que continuará a ser feito contra cidadãos pobres que sejam apanhados em alguma viela escura no meio da noite?
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É importante notar que tenho lido uma série de manifestações de juristas que afirmam categoricamente que a prisão preventiva imposta a Anthony Garotinho não possui a devida base legal, e que se dá ao arrepio das chamadas garantias individuais que estão asseguradas na Constituição Federal do Brasil de 1988. Sendo, portanto, arbitrária e ilegal (Aqui!).
Noto ainda que o uso amplo, geral e irrestrito que se está fazendo da chamada “prisão preventiva” é outra excrecência jurídica, já que, novamente, os crimes pelos quais Anthony Garotinho está sendo acusado raramente implicam na decretação do encarceramento sem que tenha ocorrido o devido julgamento com decisão de pena de prisão.
Ainda que no plano municipal, a tentação de muitos que se dizem democratas e até de esquerda seja aplaudir as medidas que estão sendo tomadas contra Anthony Garotinho, eu chamaria a atenção de que hoje pode ser o ex-governador, mas amanhã podem ser militantes de partidos de esquerda e movimentos sociais. É que não faltarão oportunistas e apoiadores do estado de exceção para equalizar o político impopular e de práticas duvidosas ao militante que quer mudar a sociedade brasileira. Basta ver o que já está sendo feito contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Goiás e no Paraná.
Um elemento final é que dada a fragilidade jurídica que cerca a prisão de Anthony Garotinho é bem provável que ele consiga sua liberdade mais cedo ou mais tarde, talvez mais cedo do que tarde. E quando ele sair, o mais certo é que sua metralhadora giratória e o arcabouço documental que ele aparenta ter amealhado venham a ser usados para atingir duramente quem hoje celebra sua prisão. A ver!