No momento em que Jesus anuncia seu Ministério, ele coloca para os futuros discípulos (12), reunidos à sua frente, o que deveriam fazer no exercício do poder que lhes estava sendo conferido.
E tendo Jesus convocado seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos, para os expulsarem, e para curarem todas as doenças e enfermidades. (Mt 10:1);
Os enviou a pregar. (Mc 3, 14);
Atenção: dei-vos poder para pisar sobre as serpentes e escorpiões e sobre toda a força do inimigo, e nada, de modo algum, vos fará mal. (Lc 10, 19)
Eram doze, são eles: Pedro; André; Tiago, o Maior; João; Filipe; Bartolomeu; Tomé; Mateus; Tiago, o Menor; Judas – filho de Tiago, também chamado Tadeu -; Simão, o Zelote e Judas Iscariotes, tesoureiro do grupo.
Quando nos deparamos com o nome de Judas, entre os colaboradores de Jesus, somos levados a refletir sobre se o Mestre Jesus teria se enganado quanto a sua convocação. Não, claro que não.
Lemos, em Atos dos Apóstolos 1:15, pronunciamento do discípulo Pedro:
Irmãos, convinha que se cumprisse a escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de David (Salmos 69:25 e 109:8), acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus; pois ele era contado entre nós e teve parte neste encargo.
O apóstolo Matias
Existiu outro apóstolo de nome Matias, mais conhecido pelo nome Zaqueu, e é o menos divulgado dos apóstolos de Cristo. É considerado o 13° Apóstolo (embora alguns considerem Paulo de Tarso o 13° Apóstolo), tendo sido escolhido em ampla assembleia, dirigida pelo Apóstolo Pedro.
Perguntamos, então, quem foi Judas Iscariotes, no contexto sócio-histórico e político-cultural de Jerusalém, durante o ministério de Jesus Cristo?
Judas foi o discípulo que traiu Jesus, entregando-o às autoridades religiosas judaicas (Sinédrio) e ao poder político de Roma, por trinta moedas de prata.
Judas, o rebelde da Palestina
Segundo historiadores, Judas fazia parte de um grupo político que lutava contra o domínio romano na Palestina. Ele, como Judeu, acreditava na profecia que dava como certa a libertação do povo judeu do domínio romano, por um Messias Libertador.
Judas e seu grupo político achavam que Jesus era esse Messias Libertador, mas, discordando dos seus métodos pacíficos de libertação, considerou que, detido pelas forças políticas e religiosas de Jerusalém, seu exército viria salvá-Lo e, consequentemente, a luta pela libertação da Palestina teria início com boas chances de vitória.
Judas agiu como um estrategista político. No entanto, ele estava equivocado, porque a libertação prometida pelo Cristo era a libertação espiritual, antes de qualquer outra libertação.
O fim de Judas, todos conhecemos: suicidou-se após ter devolvido o dinheiro da traição aos sacerdotes judeus, que adquiriram com ele um campo, Hacéldema, destinado ao sepultamento de pobres e estrangeiros.
A traição de Judas a Jesus já estava profetizada. Seu gesto tresloucado fora previsto pelas profecias messiânicas. E, segundo Jo 10:35, “as profecias se cumpriram, porque as Escrituras não podem falhar..” Lemos nos Salmos Proféticos do Rei David:
Fique desolada a sua morada, e não haja quem habite nas suas tendas. (Sl 69:25); Sejam poucos os seus dias, e outro tome seu encargo. (Sl 109:8)
Na 1ª citação, faz-se alusão ao terreno que fora adquirido pelos sacerdotes, com o dinheiro que Judas devolveu, e transformado em cemitério para pobres e estrangeiros, conforme já vimos.
Na 2ª citação, uma clara e inequívoca alusão à morte de Judas que teria então que ser substituído (tome outro seu encargo). Quem seria esse outro que tomaria o lugar de Judas? Dadas as necessidades do trabalho que deveria continuar, foi Matias. Era necessário que alguém viesse a substituir Judas, ao contrário de outros momentos, em condições idênticas, quando, pela falta de um discípulo, não se cogitou em sua substituição.
É que pelas condições de desencarne de Judas, por vias do suicídio, ele levaria muito tempo para continuar exercendo, do plano espiritual, suas funções apostólicas, diferente dos mártires-apóstolos, que continuariam no exercício do seu apostolado, como espíritos libertos da matéria e em melhores condições de atuarem nas tarefas que lhes competiria. Então, deste ponto de vista, não haveria necessidade de substituição.
Portanto, Judas ficou impedido, por razões óbvias, de continuar exercendo seu ofício. O caso de Judas foi especial. Ele momentaneamente deixou de atuar, até futuro restabelecimento em diversas reencarnações.
Judas no plano espiritual
Em Crônicas de além-túmulo, o escritor, cronista, jornalista Humberto de Campos, pela psicografia de Chico Xavier, nos conta seu encontro com Judas, no plano espiritual. Palavras do próprio Judas:
Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório de minha falta.
Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado.
Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV (como Joana DArc).
Desde esse dia em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltaram, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fonte o ósculo de perdão da minha própria consciência…
Matias, o tutor de Judas
Ainda nessa mesma noite, Matias, em espírito desdobrado do corpo material, pelo sonho, foi testemunha de um diálogo, ocorrido na espiritualidade, entre Maria, Mãe de Jesus, também em desdobramento, e Judas.
Diálogo, que transformado num belo poema pela poeta Maria Dolores, através da psicografia de Chico Xavier, nos torna testemunhas desse encontro entre Matias, Judas e Maria de Nazaré:
Depois de muito tempo,
Sobre os quadros sombrios do Calvário,
Judas, cego no Além, errava solitário…
Era triste a paisagem,
O céu era nevoento…
Cansado de remorso e sofrimento,
Sentara-se a chorar…
Nisso, nobre mulher de planos superiores,
Nimbada de celestes esplendores,
Que ele não conseguia divisar,
Chega e afaga a cabeça do infeliz.
Em seguida, num tom de carinho profundo,
Quase que, em oração, ela lhe diz:
_ Meu filho, por que choras?
_ Acaso, não sabeis? _ replica o interpelado,
Claramente agressivo,
_ Sou um morto e estou vivo.
Matei-me e novamente estou de pé,
Sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé…
Não ouvistes falar em Judas, o traidor?
Sou eu que aniquilei a vida do Senhor…
A princípio julguei fazê-lo rei,
Mas apenas lhe impus
Sacrifício, martírio, sangue e cruz.
E em flagelo e aflição
Eis a que a minha vida agora se reduz…
Afastai-vos de mim,
Deixai-me padecer neste inferno sem fim…
O assunto que lastimo é unicamente meu…
No entanto, a dama alma respondeu:
_ Meu filho, sei que sofres, sei que lutas,
Sei a dor que te causa o remorso que escutas.
Venho apenas falar-te
Que Deus é sempre amor em toda parte…
E acrescentou serena:
_ A Bondade do Céu jamais condena;
Venho, por mãe a ti, buscando o filho amado.
Sofre com paciência a dor e a prova;
Terás em breve, uma existência nova…
Não te sintas sozinho ou desprezado.
Judas interrompeu-a e bradou rude e pasmo:
_ Mãe? Não me venhais aqui com mentira e sarcasmo.
Depois de me enforcar num galho de figueira,
Para acordar na dor,
Sem mais poder fugir à vida verdadeira,
Fui procurar consolo e força de viver
Ao pé da pobre mãe que me forjara o ser!…
Ela me viu chorando e escutou meus lamentos,
Mas teve medo de meus sofrimentos
Expulsou-me a esconjuros,
Chamou-me monstro, por sinal,
Disse que eu era unicamente o espírito do mal;
Intimou-me a terrível retrocesso,
Mandando que apressasse o meu regresso
Para a zona infernal, de onde, por certo, eu vinha…
Ah! Detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha…
Não me faleis de mães, não me faleis de amor,
Sou apenas um monstro sofredor…
_ Inda assim – disse a alma docemente _
Por mais que me recuses, não me altero;
Amo-te, filho meu, amo-te e quero
Ver-te de novo, a vida
Maravilhosamente revestida
De paz e luz, de fé e elevação…
Virás comigo à Terra,
Perderás, pouco a pouco, o ânimo violento,
Terás o coração
Nas águas de bendito esquecimento.
Numa nova existência de esperança,
Levar-te-ei comigo
A remansoso abrigo,
Dar-te-ei outra mãe! Pensa e descansa!…
E Judas, nesse instante,
Como quem olvidasse a própria dor gigante
Ou como quem se desgarra
De pesadelo atroz,
Perguntou: _ Quem sois vós?
Que me falais assim, sabendo-me traidor?
Sois a divina mulher, irradiando amor.
Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!
No entanto, ela a fitá-lo, frente a frente,
Respondeu simplesmente:
_ Meu filho, eu sou Maria, sou a mãe de Jesus.
O retorno de Matias, como Bezerra de Menezes
A partir desse encontro memorável na Espiritualidade, Matias passaria a tutelar, juntamente com a mãe santíssima, o progresso espiritual de Judas juntamente a outros espíritos sofredores.
Matias, transcorridos aproximadamente 20 séculos, retorna à Terra no século XIX, mais precisamente no Brasil, Ceará, na personalidade de Adolfo Bezerra de Menezes.