Para quem analisa a política no Oriente Médio, um fato ocorrido na última semana não pode passar despercebido neste território conflagrado por retóricas belicistas e disputas diplomáticas: os exercícios militares denominado O Grande Profeta 17 (Payambar-e Azam 17, na tradução persa), realizado pelo Corpo de Guardiões (IRGC) da República Islâmica do Irã.
Foi uma demonstração de capacidade dissuasiva ante as ameaças de ataques de Israel e EUA, com exibição de um poderio bélico capaz de provocar sérios danos aos agressores.
O Irã não está para brincadeira. Seu poderio militar avançou mesmo diante das sanções econômicas aplicadas pelos EUA, tornando-se uma potência regional.
Nas últimas simulações, foram cinco dias de exercícios, encerrados na última sexta-feira (24), na costa do Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz, com disparos de 16 mísseis balísticos de diferentes plataformas, atingindo alvos inimigos localizados à grande distância, simultaneamente e com precisão.
Um desses alvos simulados, seria o reator nuclear de Dimona, no deserto de Negev, em território Israelense. O país tem mísseis capazes de atingir alvos com alta precisão a uma distância de até 2 mil km.
Em artigo publicado neste domingo (26), a agência de notícias russa The EurAsian Times, destaca que em meio à escalada de tensões na região, “Teerã com seu mais recente exercício de mísseis enviou um sinal muito forte a Israel e seus aliados”.
Isso ocorre justamente no momento em que a diplomacia israelense apela por um ataque às instalações nucleares do Irã.
A evolução do poderia bélico persa, bem como o desenvolvimento de sua indústria interna, é decorrência direta das sanções aplicadas ao longo dos anos pelo governo dos EUA. Diante das dificuldades de acesso ao mercado internacional, o país foi obrigado a se reinventar internamente, ampliando seus laços com a China, Rússia e outros países da Eurásia.
Esse estágio também reforça a percepção do quanto a diplomacia norte-americana é cega, já que todos os passos recentes no Oriente Médio favorecem o fortalecimento do Irã.
Foi o caso, por exemplo, da intervenção no Iraque, em 2003, que permitiu a queda de Saddam Hussein e a ascensão de forças políticas no país vizinho alinhadas com o Teerã. Atualmente, as forças de ocupação dos EUA estão sendo expulsas de Bagdá, permitindo a corredor logístico saindo o Irã, passando pela Síria e chegando ao porto de Beirute, no Líbano, uma rota com grande oferta de gás.
Por isso, os EUA insistem em permanecer como obstáculo, na condição de força de ocupação na Síria, ainda que o nível de dificuldade esteja aumentando.
O Irã foi ainda mais longe, ao desenvolver sua capacidade naval para cruzar os oceanos, de forma a estabelecer uma importante parceria com a Venezuela na América Latina, o que permite ao país bolivariano atenuar as sanções dos EUA.
O Irã é um símbolo de que o mundo hegemônico só existe atualmente na cabeça dos falcões da Casa Branca e de seus asseclas. O mundo já é multipolar e o equilíbrio de forças, ainda que por meio armamentista, poderá nos trazer um futuro com maior segurança, a não ser que um aventureiro faça bobagens.