A pandemia de covid-19 tem impacto significativo nas transações e na oferta das cadeias de alimentos. Pela primeira vez, os líderes das três principais organizações multilaterais de alimentação, comércio e saúde − FAO, OMC e OMS − declaram conjuntamente o risco de uma crise alimentar.
As incertezas sobre a disponibilidade de alimentos podem levar a uma onda de restrições ao comércio e desafiam os organismos internacionais de regulação, bem como os governos locais em cidades com grandes áreas agricultáveis, como Campos.
Além do grave problema de oferta de alimentos (food security), a pandemia também coloca em evidência a questão da segurança do alimento (food safety), ou seja, a segurança do que estamos comendo, em termos de risco à saúde. Crises recentes como a da doença da vaca louca e da gripe suína tiveram fortes impactos em cadeias produtivas e na disponibilidade de alimentos.
Neste cenário de grande incerteza, como o Brasil − um dos maiores produtores de alimentos do mundo − poderia se posicionar e contribuir de forma a reduzir essas incertezas?
Um ponto forte da estrutura agrícola brasileira é a grande quantidade de produtores localizados nos cinturões verdes das cidades que abastecem os centros urbanos. Neste momento de restrição de circulação de trabalhadores, a utilização de mão de obra familiar também viabiliza a produção com menor custo.
Políticas públicas que priorizem centrais de abastecimento e financiamento para os produtores familiares, como o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) atualmente se mostram importantes para viabilizar o fornecimento de frutas e legumes. Trata-se, portanto, de uma oportunidade para, por meio de políticas públicas, garantir a segurança alimentar das grandes cidades, inclusive de quem tem menos renda.
Ao longo dos últimos doze meses, o custo dos alimentos subiu cerca de 20%. Em paralelo, acaba o Auxílio Emergencial e o custo da cesta básica consome metade do salário mínimo. Dos 70 mil trabalhadores formais contratados pelo setor privado campista, a média salarial é de apenas dois salários mínimos. Nesse contexto, uma Política Pública de Segurança Alimentar é urgente e crucial.