Na segunda-feira (23), o jornal Diário Comércio, Indústria e Serviços (DCI), sediado em São Paulo, estará publicando sua última edição impressa, encerrando uma trajetória de 85 anos.
O grupo também decidiu encerrar a edição na internet. A decisão implicará na demissão de 30 funcionários, sendo 12 deles jornalistas.
O DCI pertence ao grupo SolPanamby, da família Quércia, desde 2002. A família também controla negócios imobiliários, rádios, fazendas e marcas de café.
Em entrevista ao Estadão, o diretor-executivo do diário econômico, Raphael Müller, afirmou que a medida provisória 892, anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro em agosto deste ano, foi o fator determinante para a morte do jornal, porque causa incerteza.
A MP, que está valendo, mas que ainda depende de aprovação do Congresso para sobreviver, desobriga empresas e órgãos públicos de publicarem balanços financeiros em jornais impressos, afetando uma das principais fontes de receita do diário.
A medida de Bolsonaro, na verdade, é parte do problema, mas não é a única responsável, conforme admite o próprio executivo da empresa. Na verdade, a era digital é uma avalanche incontrolável sobre os formatos de negócios que já rendeu dinheiro no passado, mas hoje apenas mantém status ou viabiliza negócios.
As novas plataformas são os venenos mortíferos. Elas estão acelerando a morte dos veículos de comunicação tradicionais, que perdem publicidade e leitores para as mídias especializadas no formato de notícias para smartphone, o veículo de massa que converge diferentes plataformas.
É um jornalismo mais ágil, menos personalista e vocacionado a checagem mais apurada de dados, algo essencial para definir o que é jornalismo sério das porralouquices que assolam determinadas redações. A checagem das informações em diferentes fontes se dá por meio de ferramentas tecnológicas imbatíveis no trabalho de apuração, como o Big Data.
Isso exige que o profissional nessas novas plataformas estejam familiarizados com essas ferramentas, de forma, que o jornalista moderno, por exemplo, precisa entender de arquitetura de design para aplicativos, conviver com programação de sistemas, produção e editoria de vídeo, entre outras coisas com as quais não tinha preocupação no passado recente.
Outro detalhe: o custo para o consumidor de notícias no formato digital é mais barato e confiável, além de apresentar melhor detalhamento, graças aos recursos multimídia. Para o anunciante o retorno é inquestionável, o melhor exemplo é que a própria “mídia velha” se vale de impulsionamentos de links em redes sociais para tentar manter leitores em sua produção impressa reproduzida em sites, como apelam determinados jornais de interior.
Na mídia virtual não existe mentira em termos de alcance de público, porque os acessos em sites e aplicativos podem ser aferidos por meio de auditorias tecnológicas externas, diferente da “mídia velha”, onde quem não tem audiência conta história.
Reportagem do Meio & Mensagem destaca que nos últimos anos o DCI já vinha reduzindo o número de profissionais e páginas publicadas, “em decorrência da queda de leitores e redirecionamento de verbas publicitárias para o ambiente digital”. Em dezembro do ano passado, a empresa demitiu metade dos jornalistas.
O fim do DCI explica os rompantes de setores da chamada “mídia velha” contra o jornalismo moderno, que está ancorado na mídia digital. É a agonia diante da sensação amarga gerada pelo fim da era do fausto e do monopólio da informação.
A realidade é inexorável. Os telespectadores esqueceram as TVs abertas. Estão no Netflix. Aparelho de rádio só no carro, isso quando os motoristas não estão conectados no Spotify ou pendrive com músicas e podcast.
O rádio não deixou de existir e tem sua importância, assim como as TVs, mas precisam convergir para um ambiente digital, adotando uma nova linguagem e uma segmentação para manter nichos.
Leitor de mídia impressa é uma geração acima dos 70 anos, porque os demais pertencem a geração digital. Os jornais, em função dos custos e falta de financiamentos, tendem a desaparecer de forma cada vez mais acelerada. Os órfãos da “mídia velha” demoraram enxergar que o mundo convergiu para a palma da mão.