Para quem gosta de séries brasileiras de qualidade, no momento presente já pode assistir nas plataformas digitais a elogiada película intitulada “Os Outros”, retratando os dilemas de uma família de classe média carioca vivendo suas agruras, decepções, medos, culpas e ressentimentos, em pleno vigor da fase mais avançada da globalização desigual que ilude pessoas de boa-fé, totalmente esmagadas por um cotidiano pobre culturalmente.
O pano de fundo disso é o papel exercido pelo nosso país na divisão internacional do trabalho e a desindustrialização que afeta uma das dez maiores economias do planeta.
Hoje as classes médias tradicionais não estão mais ascendendo. Ao contrário, elas estão empobrecendo e rebaixadas nos seus padrões de vida e no antigo status de mediadoras do processo político. A relação delas com a política é determinada pela incerteza e repulsa, pois na medida em que a sociedade se polariza se indagam para onde vão.
Contudo, as famílias também começam a enxergar, que não há solução policial para uma situação de desigualdade abissal como a que vivemos na terra da jabuticaba e do juro pornográfico.
A economia brasileira é hoje uma espécie de vaca leiteira para uma oligarquia internacional e seus aliados políticos internos. Geradora de ganhos monumentais para uma minoria e de miséria e desassossego para famílias atônitas. Para reanimar sua economia e torná-la verdadeiramente estável é preciso que o país possa cessar essa hemorragia de riquezas, na forma de privatizações, altos impostos indiretos, baixíssimos impostos diretos e apropriação privada de recursos hídricos e minerais estratégicos.
Um gigantesco endividamento rege o capitalismo em sua fase rentista, pois é um sistema com geração insuficiente de demanda para os produtos que produz. Precisa das dívidas e do Estado para manter a acumulação de capital intacta. Dívida impagável constitui poder nas mãos dos credores e um risco real para a população que necessita de políticas públicas ativas. A nova equipe econômica, de forma cuidadosa, tenta driblar essa restrição.
Nesse contexto, mantido o quadro vigente, ao contrário do apregoado, o subdesenvolvimento não será um estágio de evolução rumo à modernidade perseguida, mas, ao contrário, característica complementar ao processo de atraso relativo em si. Países como o Brasil possuem forças produtivas e padrões de produtividade inferiores aos países líderes e, por isso mesmo, possuem moeda fraca e não conversível internacionalmente.
Somos uma sociedade que não aprende com seus erros históricos? Ou o reformismo fraco pode resolver a questão estrutural latente? A contradição industrialismo versus agrarismo rentista voltou à ordem do dia com o discurso do Presidente da República no Conselho que trata das questões centrais do país. Assim também foi nas primeiras décadas do século passado no famoso debate Roberto Simonsen versus Eugênio Gudin lembram?
Com Arcabouço Fiscal e Reforma Tributária (esta última muito necessária), os rentistas respiram aliviados. Entretanto, esta malta do dinheiro precisa pagar mais impostos sobre a renda e patrimônio para fortalecer o Fundo Público. Apesar da desconfiança inicial, o que se observa é uma gradativa melhora das expectativas empresariais, na forma de uma previsão de PIB que se assemelha ao observado em 2022 (2,5%), inflação em forte queda, mercado de trabalho criando vagas, ainda que na forma de salários baixos. Avante!