Já não se fala mais do futuro, mas da gestão de risco e de probabilidades. Gerencia-se o cotidiano através de políticos que manipulam o risco e o medo como meios de governo, seja o risco à segurança ou o risco cambial (da dívida), que falam muito de aquecimento global, mas são incapazes de antecipar a catástrofe anunciada.
Uma sociedade que já não consegue se reinventar leva as pessoas a manifestações de desespero e de raiva.
O Brasil mistura pandemia, miséria, desigualdades e mudança climática. A desigualdade deixa fora da proteção social uma parcela expressiva da população. A Inteligência Artificial, que aumenta os lucros das grandes corporações, que controlam as redes sociais, também torna cínica a promessa de pleno emprego da força de trabalho.
O Instituto Travessia realizou nas últimas semanas de 2020 uma pesquisa tentando entender o que os brasileiros esperam do ano que chega. Em relação às suas próprias vidas, 44% acham que pouco vai mudar e apenas 22% têm esperança de melhora.
Para o brasileiro comum, os maiores problemas do país são desemprego, crise econômica e crise sanitária. Momentos excepcionais exigem medidas com a devida agilidade. No G- 100, que congrega as maiores cidades do país, o desemprego somado ao desalento bate 20 por cento, a informalidade 40 por cento e 60 por cento das pequenas empresas operam com grandes dificuldades de sobrevivência. E o Auxílio Emergencial acaba.
Nesse contexto de grandes dificuldades, as maiores esperanças se concentram em obter um emprego melhor (com melhor remuneração) e no fim da pandemia, mediante vacinação em massa.
Em termos coletivos, o brasileiro acha que o mais importante é melhorar os serviços de saúde pública e redução da violência. E na questão intergeracional, 61% afirmam que seu país vivia em melhores condições, mas acreditam (55%) que seus filhos e netos terão um futuro melhor. Alvíssaras!
Em uma sociedade desigual como a nossa, ficar ao lado dos fracos e desprotegidos gera reações da elite escravocrata. Entretanto, se não quisermos enfrentar uma guerra civil precisamos, com urgência, construir consensos e deixar de agir como cegos no meio de um tiroteio.
A liberdade é perigosa, o sonho é perigoso, a reinvenção daquilo que a gente vive é sempre uma desestabilização do status quo. Enfim…