O Estado capitalista ocupa papel estratégico no desenvolvimento econômico das nações. Sem a sua presença decisiva, não haveria o tardio desenvolvimento da Alemanha, ou mais recentemente da Coréia, ou o exitoso planejamento de longo prazo chinês.
Vivemos tempos de reconfiguração das relações sociais, em escala planetária. Os grandes monopólios, como em todas as crises, para aumentar seus lucros aprovam, sem pestanejar, que as elites dirigentes de plantão adotem medidas extraordinárias, que permitam disciplinar o andar de baixo da pirâmide social a aceitar pagar a conta do desajuste geral.
O pano de fundo para a “Great Reset” (reinicialização) discutida por mestres no Fórum de Davos é o elevado nível da Dívida Pública Mundial, associado ao alto desemprego e ao baixo crescimento das economias do G-20.
Agora surge a nova alta internacional dos juros, com fortes implicações negativas para as economias da periferia do sistema. A plutocracia financista domina o fundo público e dita regras. E a fratura social se expande.
Na Europa, além do risco do conflito Rússia/Ucrânia/OTAN (claramente associado ao jogo pelo controle de matérias primas estratégias), cresce a insatisfação social e as manifestações populares. Nos EUA, Joe Biden amarga índices cadentes de popularidade.
Isso contrasta com a visão dos grandes magnatas que consideravam ter conseguido obter uma população suficientemente submetida à nova ordem e aceitado, sem reclamar, as mudanças rápidas, profundas e transcendentais nas suas vidas.
Todas elas direcionadas para incrementar, de forma exponencial, a exploração, a precarização, extensão das jornadas de trabalho e a queda dos rendimentos laborais. Afinal, o pânico gerado pela pandemia asseguraria a docilidade do cidadão amedrontado. Uma ilusão de ótica!
Ao sul do Equador, a ofensiva das contra reformas e arrocho fiscal iniciada com o reinado do ministro Levy no governo Dilma, permitiu aos donos do dinheiro, diante da pouca resistência, a capacidade de impor forte retrocesso das relações laborais, privatização de serviços públicos com tarifas caríssimas ( água, energia, transportes), redução da tributação sobre as rendas do capital e a intensificação da tributação indireta sobre as classes populares, como é o caso do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – sobre os caríssimos preços dos combustíveis pagos na bomba. Essa carestia veio num contexto, onde os preços das matérias primas, em dólar subiram 94%, em dois anos, e o preço da energia – item crucial na vida de uma família subiu 21%, ano passado.
Por aqui em ano eleitoral, as linhas gerais que se expressam nos programas, operados por partidos políticos e liderados por figuras que personificam interesses e expectativas das classes, frações e camadas sociais nos revelam grandes contradições.
As pesquisas de opinião indicam, até agora, acirrada luta entre as pré-candidaturas dos campos: conservador (extrema-direita e direita neoliberal) e reformista (social-liberal e social-democrata). A esquerda patina na pista e assiste a “banda passar”, sem poder de influir.
Nos dias atuais, a política é uma força que a minoria da sociedade rica emprega para manter tudo como eles desejam, não como a maioria precisa. Nesse contexto, no campo reformista, a pré-candidatura social-liberal tem em Lula seu principal representante, com certo favoritismo, até o momento.
A costura de alianças com figuras liberais e partidos conservadores protagonizam uma nova política de conciliação.
Nesse contexto, aparentemente, não há perspectiva de reversão das contrarreformas e do domínio associado aos interesses do capital financeiro. A tendência é que Lula siga se equilibrando entre a busca do apoio e confiança do mercado (ou de boa parte dele) e a adesão das massas trabalhadoras, principalmente dos setores mais precarizados, com a promessa da retomada de políticas focalizadas de distribuição de renda, geração de empregos com baixa remuneração e qualificação e de inclusão pelo consumo das massas.
Entretanto, a consciência ingênua de apostar no culto ao herói, com dotes de salvador da pátria, pode não funcionar. Por outro lado, o jogo (de fato) apenas começa no Brasil, depois do Carnaval e, até outubro, tudo que hoje se revela sólido pode se desmanchar no ar.
Afinal, não esqueçamos o poder de fogo institucional e midiático da turma do andar de cima do edifício social do país. Intenções declaradas de votos são condições necessárias, mas não suficientes para a conquista efetiva de vitórias concretas, vide 1994!