A Guerra na Ucrânia acelerou o processo de reacomodação das cadeias globais e impactou setores como semicondutores, automóveis e principalmente, a energia, os combustíveis e os alimentos.
O desabastecimento e a fome global se alastram na periferia do sistema. Grande produtor de alimentos, o Brasil patina e 10 milhões passam fome!
Diante desse contexto externo desafiador, a desejada retomada do crescimento na economia de nosso país vai exigir planejamento de longo prazo e estabilidade institucional, no âmbito do capitalismo tardio e dependente brasileiro.
Lembrando ainda, que as empresas de capital aberto não financeiras de nosso país aumentaram, em 116%, seus lucros no primeiro trimestre de 2022, em relação a igual período de 2021.
Há uma coalização de forças entre os donos da terra, do dinheiro, com o segmento rentista e parte da imprensa impondo o custo maior do ajuste aos trabalhadores rurais e urbanos.
Diante desse quadro, um primeiro desafio para o ano de 2023 será a busca incessante do pleno emprego mediante, por exemplo, a retomada de todas as obras já licitadas que foram paralisadas ou não iniciadas, nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Sabemos da existência de 2,8 milhões de jovens entre 18 e 24 anos fora da escola e, por outro lado, um contingente semelhante de jovens cursando o ensino superior, mas com alto temor de enfrentar um mercado de trabalho incapaz de absorvê-los. Vale destacar que, no tempo presente, os trabalhadores que utilizam habilidades cognitivas não rotineiras têm melhor desempenho, enquanto os trabalhadores manuais rotineiros e não rotineiros estão em pior situação no mercado de trabalho.
No geral, há sinais de mudança tecnológica rotineira e polarização do emprego desde 2014. A paciência da juventude se esgota a olhos vistos.
Ao mesmo tempo, é urgente recuperar o poder de compra do salário mínimo. E nesse contexto, urge a mudança na política de preços dos combustíveis, hoje dolarizada, para reduzir seu custo sobre a distribuição de bens. O preço do diesel encarece o transporte urbano.
Também é crucial reduzir pela metade o preço do gás de cozinha para famílias pobres – um desejo incontido do grande contingente de eleitores decisivos no processo eleitoral que se avizinha. Ao mesmo tempo, é necessária a criação de estoques reguladores dos alimentos da cesta básica para forçar a redução dos preços abusivos praticados.
Um exemplo concreto da força do mercado financeiro pode ser visto pelo intenso debate para obter-se R$89bi no orçamento, submetido ao teto de gastos, para atender ao programa substituto do Bolsa Família.
Já o Banco Central elevou para R$ 117 bi o gasto financeiro adicional com dívida pública, por conta da elevação do juro de 9,25% p/ 12,75% ao ano. Isso é a prova cabal da força do capital portador de juros na vida política nacional. Juros altos castigam as famílias exigindo um programa de descontos de dívidas para limpar o nome das 64 milhões de pessoas com problemas no SPC e Serasa.
A recuperação da produtividade e a retomada do crescimento, com geração de empregos de qualidade, vão exigir também uma melhora na proteção social. Implantar o Programa Renda Mínima Universal englobando os pagamentos feitos pelo Auxílio Brasil, o Seguro Desemprego e a Aposentadoria Rural seriam uma saída razoável. A pauta é extensa. Mudar o jogo requer uma nova correlação de forças e uma nova agenda setting.