O eleitor médio, sabemos, é desconfiado. Amarga uma vida difícil no sétimo país deste planeta em desigualdade social. Uma desigualdade histórica, que marca a pele de sua família como o ferro ardente marcava a pele de escravos.
Ele trabalha, se esforça, engole seco, mas um ou outro consegue superar a barreira da pobreza e da marginalidade. Este eleitor médio se projeta em uma ou outra celebridade – já que não vê muitas possibilidades de superar seu carma social por suas próprias forças e iniciativas.
Algumas vezes procura um pai/um salvador que o valorize e dê guarida, mas, não tem muita fé que pela política saia do jogo das elites, o jogo da perpetuação da desigualdade social que mais parece um estamento, uma sociedade organizada em castas. A falta de oportunidades produtivas aprofundou-se neste 2020.
Nas cidades brasileiras, o panorama pós-eleição convive com a nova aceleração da crise da COVID e o persistente déficit orçamentário, a conta não fecha e os novos governos locais podem ter de recorrer a novos empréstimos, ou ter que impor mais sacrifícios à cidade, pois os novos dirigentes devem dívidas com salários atrasados e dívidas contratuais de serviços básicos.
Mas atenção: o servidor não pode ser penalizado, mas sim valorizado, embora reconheçamos o excesso de terceirizações e cargos em comissão. Outro ponto crucial é capacitar o pequeno fornecedor local para concorrer com igual condição, em relação aos de fora, nas licitações, de modo a permitir uma maior circulação de dinheiro na cidade de meio milhão de habitantes.
Estado mínimo, com ajuste fiscal não será uma boa solução. Ao contrário, empregos, renda, direitos sociais, infraestrutura urbana, mobilidade, saúde, educação, cultura e lazer são as demandas prementes. Afinal, vivemos uma transição.
Em tempos de Brasil em depressão, uma alternativa é a economia local, desenvolvimentista, com mais inclusão, moeda local e efeito multiplicador dos programas sociais e das obras públicas.
O agronegócio vai bem, a indústria ganha com câmbio, mas o setor de serviços (empregador) continua em crise. Nossas cidades possuem 50 milhões de desocupados e informais pendurados no Auxílio Emergencial federal, em fase de extinção. Nesse contexto, retirar pessoas da rua e reduzir a violência urbana se obtém evitando desperdício de obras faraônicas. Afinal, 21% da população é extremamente pobre, em pleno 2020 da revolução tecnológica 4.0.
Segurança alimentar, saúde, e proteger os mais vulneráveis. É isso que os 40 por cento de eleitores ausentes na eleição querem. A senha é qualidade nas decisões e não deixar se capturar pelos interesses econômicos corporativos dos “tubarões do fundo público”. Afinal, a pobreza na cidade é estrutural e exige transferência de renda na veia.
Diante da profunda crise financeira que castiga as famílias mais pobres, a sociedade se faz presente exigindo mais transparência, menos clientelismo e mais abertura para demandas populares. Ou seja, fortalecer a participação popular. Se nada for feito de redistributivo e prevalecer, apenas o ajuste fiscal, em 2024 o povo, sábio como sempre, muda de novo.