Impactante, inusitado e intimidador. Neste final de semana assisti ao filme Joker nos cinemas e, literalmente, tomei um soco no estômago. Sai da sala perplexo, reflexivo. Logo em seguida fui dormir refletindo em como aquela história se assemelha a nossa realidade corporativa.
Um breve resumo do filme: a vida de Arthur é complicada, difícil e suja. Ele já tem diversos problemas. Não tem uma boa saúde, pelo contrário é bem debilitado fisicamente e mentalmente. Problemas com empregos e dificuldades de viver em sociedade.
Gotham City é uma cidade imunda, que ajuda a afundar ainda mais os mais desafortunados. Coringa mostra de uma maneira bem crua diversas situações de desigualdade social e como uma cidade abandonada ao relento pode ser o fato gerador de diversos problemas.
Logo no começo do filme, o sistema o desafia. Problemas em casa, falta de amparo do Estado, crise financeira e surtos de psicose.
Em muitas situações, observamos organizações agindo como opressores, atuando como prisões psíquicas, tais como: narcisismo, sexualidade reprimida, repressão, código de conduta rígidos, autoritarismo, cultura do medo.
Em outra situação, o ator Artur é estimulado pelo colega de trabalho a cometer atos ilícitos usando uma arma para resolver seus problemas.
Fugir dos problemas resolve?
Talvez a curto prazo, mas a médio e longo prazo ele volta com mais força e intensidade.
Logo após uma desastrosa apresentação para crianças, o ator deixa cair uma arma de sua vestimenta. Sua carreira de comediante é encerrada e ele é demitido.
Para piorar, seu auxílio social do Estado é cortado. Ele não tem mais dinheiro para comprar seus remédios nem receber um amparo psicológico.
Em muitas situações dando treinamento, observo gestores que trabalhando por 5, 10 anos com suas equipes sem conhecer seus colegas de trabalho.
Eles desconhecem seus hábitos, hobbies, desejos, sonhos, família, problemas. Alguns esquecem que a Vida e o Trabalho estão conectados.
Já presenciei muitos executivos caindo de desempenho por problemas pessoais, nos relacionamentos, lidando com problemas de saúde, e por incrível que pareça, desconhecidos pela organização e/ou pelo gestor.
Outro fator agravante usando no Coringa é a falta de empatia, gerando problemas sistêmicos.
“Foco no resultado. O EBTIDA é o que importa.’’ – Já ouviu isso?
Certa vez, em uma apresentação comercial, me deparei com a resposta inusitada de um diretor de uma grande multinacional dizendo:
“Prefiro colocar em meu orçamento os custos da rotatividade do que me sujeitar a mudar de comportamento.”
Qual a mensagem que isso passa? Manda quem pode, obedece quem tem juízo. A minha opinião é a única que importa.
Além de evidenciar um alto grau de autoritarismo, as pessoas estão em segundo plano. Muitos esquecem que a empresa é feita de pessoas. Em muitos destes casos, não existe Segurança Psicológica.
Mas Vicente, qual a importância da Segurança Psicológica dentro das organizações?
Ela é a responsável por desenvolver comportamentos de Pró-atividade, Criatividade, Resiliência, Engajamento dentro do ambiente corporativo. Quando ela não existe ou é baixa, os erros tendem a ser maiores. E quando erram, costumam não chegar a alta cúpula.
“Por que devo falar dos problemas se serei penalizado? ” – Ouvi isso certa vez de um colaborador. O alto grau de autoridade amedronta e paralisa a evolução.
Sem segurança psicológica, não conseguimos resolver problemas, nem ao menos saber que eles existem. Construir um ambiente seguro é permitir que a voz dos oprimidos, que buscam mudança, sejam ouvidos.
Alguns anos atrás, observei uma grande empresa automobilística perder um grande talento por negligenciar sua voz. Ela era uma gestora muito inteligente, e cuidava da inteligência de mercado da organização. Sem gestão do conhecimento e cansada do ambiente machista e opressor, ela saiu da empresa. Levou com ela mais de 5 anos de conhecimento da empresa.
Só para se ter uma ideia, estipula-se que o custo de reposição de uma gestora desse nível chegue a 150% de um salário anual (DIEESE, 2018).
De acordo com WEF (Fórum Econômico Mundial), a Resolução de Problemas Complexos e Criatividade são as principais demandas para 2020.
Seja dentro ou fora do ambiente corporativo, resolver problemas complexos passa por lidar com o diferente. Muitas empresas estão fazendo Mentoria Reversa para tentar resolver o desafio do Turnover.
Mentoria reversa é a combinação de funcionários mais jovens com executivos mais seniors para orientá-lo em diferentes tópicos.
O que algumas organizações já estão fazendo é o REVERSO DO REVERSO. Como assim? Conectar os mais jovens, ligados a internet, a ensinar executivos sobre o impacto desta no modelo de negócios.
E encontrar esse equilíbrio é o grande desafio. Empresas tradicionais não estão sabendo lidar com a nova geração. Gestores estão confusos com o novo mindset.
As necessidades mudaram e as organizações não.
Tentando trabalhar como palhaço, o Coringa se diz cansado e afirma: Seu apelido em casa é Feliz devido a sua doença neurológica que o faz rir quando fica nervoso.
Na era da felicidade a um clique, a busca incessante pelo prazer gera frustração. Algumas redes sociais estimulam a luxúria, o bem-estar. A obsessão pelos seguidores paga um preço social.
A falta de vínculos gera fragilidade. Comediantes com milhões de seguidores deprimidos. Empreendedores de sucesso tentando suicídio. Músicos de sucesso reclamando do burnout e coaches nascendo em pé de árvore.
Não deixe que a busca pelo prazer tire a satisfação pelo do momento presente.
Visto estes desafios, eu a Ana Chauvet criamos um Treinamento UAL, destinado a desenvolver Lideranças usando Alta Performance e Empatia.