Para metade da população adulta brasileira, o principal problema do país passa pela questão da estagnação econômica e da carestia dos produtos de primeira necessidade. Na questão social, cerca de 17 milhões de miseráveis rondam nossas cidades.
Por outro lado, 35% das famílias com renda de até 2 salários mínimos mensais consideram a quantidade diária de comida na mesa, diariamente, insuficiente.
Para piorar, o fenômeno da explosão dos preços dos alimentos é de caráter internacional e intensificado pela guerra OTAN-EUA-Ucrânia versus Rússia, pois os países envolvidos diretamente no campo de batalha são grandes fornecedores de trigo, milho, petróleo e gás. A luta pela captura da renda petroleira se dá de forma intensa, nos campos militar, político e midiático.
A linha utilizada pelo Banco Mundial para monitorar a extrema pobreza global é de 1,90 dólar por dia por pessoa em dólares internacionais com Paridade de Poder de Compra (PPC$), o que equivale, em valores de 2020, a cerca de 5 reais por dia por pessoa.
Nesse contexto, um chefe de família pobre que tenha que comprar medicamento para cuidar de uma criança doente terá que passar dias sem comer? Um espanto!
A linha de pobreza internacional considerada típica de países de renda média-alta como o Brasil é de PPC$ 5,50, isto é, 14,50 reais por dia por pessoa. Com serviços públicos gratuitos a vida de qualquer família pobre já é dura. Sem esses serviços, agora convertidos em produtos mercantis caríssimos, isso é inviável.
Cada dia na vida de uma família no segmento 1% mais rico compra, pelo menos, um mês da vida de uma família pobre. Viver na pobreza é viver sob uma pressão imensa. Uma renda básica de cidadania, diante de um mercado de trabalho “uberizado” parece, cada dia, mais urgente.
A questão então é de onde viriam os recursos reais para tal. O senso comum, construído a partir da ótica da gestão do orçamento familiar, transplantado para a gestão macroeconômica tem de ser superado. Afinal, a ideia de que uma nação possa enriquecer fazendo o que empobrece um indivíduo é ridículo.
Por essa razão é que a atividade econômica, renda e emprego seguem em ritmo letárgico, mas os ganhos do “andar de cima” mantêm-se garantidos pela crescente rentabilidade das empresas negociadas no mercado de capitais tupiniquim – agora turbinada pelo juro real altíssimo.
Não precisamos atingir um clima tal, onde os “donos do dinheiro/mercado” percam o sono, por medo do andar de baixo não aguentar mais dormir com a barriga roncando de fome.
O verdadeiro limite ao crescimento da renda nacional é sempre sua capacidade de produzir. Abster-se de gastar em momento de recessão é desperdiçar forças produtivas, intensificar a miséria e falhar com a sociedade que paga a conta. Se todos possuem capacidade de gastar mais, a ociosidade cessa, a comunidade enriquece e ninguém corre o risco de cair na extrema pobreza, em função das oportunidades produtivas que surgem.