Para falar de Selmo Eduardo, Selminho, revisitarei memórias bem antigas onde ele, engatinhando no ofício de professor, dava aulas particulares de matemática. E, ali, numa casa antiga de janela para a rua, próxima do Jardim São Benedito, numa mesinha da sala da frente, em meio a um entra e sai interminável de gente de todas idades, lar de muitos filhos, eu me sentava à sua frente para iniciar uma nova aula.
Eu sou e sempre fui muito falante. Quem me conhece, sabe. Mas, não havia pressa para iniciar. Ele ouvia pacientemente, aguardando o tempo necessário para ganhar terreno no diálogo até ser possível reiniciarmos nossa trajetória no plano de nossas aulas.
E, assim, magnetizado por seus olhos minúsculos e seu temperamento cordial-sorridente, tomava posse de minha atenção segura e definitivamente, até que nada e ninguém mais me distraísse.
A estratégia funcionou e eu passei para o curso de Mecânica na Escola Técnica Federal de Campos, caindo nas aulas de um outro irmão seu, Silvio, este Professor de Desenho.
A família de Selmo mais se parece uma escola onde irmãos de diversas gerações se dedicam/dedicaram ao magistério, inclusive Salvador Pires, o mais jovem, meu contemporâneo de Liceu, hoje professor do IFF (Instituto Federal Fluminense).
O que contei até aqui aconteceu quando eu tinha apenas 12 anos. O tratamento e cuidado recebidos, entretanto, ficaram ecoando, guardados comigo nas páginas do meu coração-livro.
Saí de Campos, me formei, trabalhei e vivi, jamais esquecendo aquelas aulas, cujo conteúdo excedia ao programa para o concurso, obtendo, eventual e esporadicamente, noticias suas através de Badô.
Eis que recentemente chegou ao meu grupo de WhatsApp do Liceu de Humanidades de Campos, onde também estudei, notícia do dilema envolvendo Selmo e dois outros familiares, sua mãe e sua irmã (atingidos pela Covid-19). Fiquei muito abatido. Meu coração pedia que eu fizesse alguma coisa, mas, o que fazer num momento coletivo como este? Restou-nos, aos seus amigos, orar e pedir por ele. E foram muito os pedidos que testemunhei.
Selmo fez uma trajetória brilhante e de reconhecimento público como professor. Traçar registros curriculares aqui é desnecessário, visto que prevalecem, nesta hora, o homem e suas qualidades.
É preciso, contudo, registrar uma triste ironia existencial: as limitações impostas pela pandemia deixaram só uma pessoa cujas ações estão e estiveram presente de forma muito significativa na vida de tantos, não recebendo assim dos que o amavam o merecido afeto que houvera semeado, cujas orações, acredito sinceramente, o alcançarão na eternidade.
Vá em paz, Selmo Eduardo, nosso adorado professor!