A promessa de que o Porto do Açu, maior empreendimento portuário da América Latina, promoveria um crescimento demográfico em cidades como São João da Barra (RJ) e Campos (RJ), no Norte Fluminense em 10 anos, não se consumou.
Assim também como se tornou um mito a promessa de geração de 40 mil empregos quando o porto entrasse em operação.
O porto iniciou sua operação em 2014. Atualmente emprega cerca de 7 mil trabalhadores, a esmagadora maioria, na construção civil. Ainda que esteja operando, continua em construção.
A constatação está na tese de doutorado do pesquisador Hevilmar Carneiro Rangel, no programa de Planejamento Regional e Gestão de Cidade, da Universidade Cândido Mendes.
“Esta obra do porto será permanente. Ele deve continuar em construção pelos próximos 100 anos”, destacou Rangel em recente entrevista ao jornalista Roberto Barbosa, no programa Direto da Redação.
O programa vai ao ar nas plataformas digitais do Portal VIU! (Youtube e Facebook), com retransmissão nas rádios 104.9 FM (Energia, Rio das Ostras) e Líder FM (Noroeste Fluminense).
ENTENDA O NEGÓCIO
O empreendimento portuário de 5ª geração foi construído em São João da Barra, uma cidade litorânea do Norte Fluminense, a partir de 2007. Foi projetado para se tornar um complexo industrial portuário, ancorando grandes embarcações, além de sediar indústrias, estaleiros e termelétricas.
Para este projeto grandioso, o governo do Estado desapropriou terras de pequenas produtores rurais para construção de um distrito industrial, situação ainda não resolvida, porque os antigos proprietários das terras até hoje não foram indenizados.
A vocação natural seria a exportação de minério de ferro e bauxita, extraídos em reservas da Anglo American em Minas Gerais, e transportados por meio de gravidade em uma extensa rede de mineroduto até o Porto.
Contudo, a crise mundial que afetou a demanda por commodities, e uma série de outros fatores, também implicou na mudança de controladores, quando o empreendimento saiu do controle da LLX do empresário Eike Batista, passando para a Prumo Logística.
A tendência é de que a geração de empregos persista aquém do que foi prometido, porque de acordo com o pesquisador, um porto de 5ª geração se caracteriza pelo capital intensivo e mecanização, utilizando o mínimo de mão de obra.
PODER ALÉM FRONTEIRAS
Ainda que o projeto inicial tenha inflado expectativas, o porto é uma realidade e se tornou maior do que a própria cidade, de forma que o comando do empreendimento deixou de se reportar à esfera do poder local.
Por outro lado, a frustração de expectativa na geração de empregos e no crescimento demográfico provoca um efeito colateral em cidades como Campos, cuja pequena burguesia local apostou na compra de imóveis para aluguéis.
“A cidade atualmente tem um estoque de 31,4 mil imóveis desocupados, além de 20,8 mil imóveis vagos”, destaca o economista e colunista do Portal VIU!, Ranulfo Vidigal, autor de uma série de artigos sobre o empreendimento portuário, com base na tese de doutorado.
Ainda que não vá ser exatamente o que projeto inicial prometia, a tendência é de que o Porto do Açu avance no sentido de se tornar uma importante base de apoio à produção de petróleo.
“É o único porto no Brasil que atualmente faz transbordo de petróleo. Hoje, 80% das atividades do Porto de Imbetiba, em Macaé, já estão no Açu. A tendência é que as atividades também do Porto de Santos sejam deslocadas, porque as atividades da camada do pré-sal aos poucos tendem a se mover para a Bacia de Campos”, disse Hevilmar.
Só que o porto, segundo ele, continuará com sua característica de baixa capacidade de absorver mão de obra, devido à mecanização.
Três destaques sobre o Porto do Açu, que se pode extrair da dissertação do pesquisador:
1 – Sua existência inviabiliza o Porto do Barreto, em Macaé, porque a cidade não tem área de expansão terrestre para um porto de 5ª geração. O novo porto de Macaé está projetado para uma área urbana, sem condições de implementar um distrito industrial, como esses novos empreendimentos exigem.
2 – O Porto do Açu também inviabiliza o Porto Central em Presidente Kennedy (ES) como base de apoio à produção de petróleo em alto mar. O porto Central teria viabilidade para exportar minério, atendendo a Vale do Rio Doce, mas falta investidores.
3 – Devido às características modernas, com preponderância de capital intensivo, o favorecimento de Campos como retroárea em função da boa estrutura na área de serviços, será limitado. O mercado imobiliário tende a se depreciar ainda mais.
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