Enquanto a produção de petróleo está em queda na Bacia de Campos, a Bacia de Santos vai assumindo o protagonismo, obrigando as elites do Norte Fluminense a rever seu modelo de desenvolvimento |
Afinal de contas, as indústrias extrativas do minério de ferro e do petróleo promovem, ou não, o desenvolvimento genuíno – aquele que incorpora uma força de trabalho treinada, escolarizada e produtiva? Não custa indagar.
Segundo matéria do Estadão, o forte incremento na produção do pré-sal da Bacia de Santos provoca mudança no perfil de distribuição dos royalties do petróleo, e ao mesmo tempo, reduz a participação no bolo, da parte relativa aos municípios da Bacia de Campos, onde a curva de produtividade dos campos maduros cai rapidamente (em torno de 17% ao ano).
Em março de 2016, a produção de petróleo na Bacia de Campos – responsável ainda por 60% da produção nacional – caiu para apenas 1,2 milhão de barris diários, nível equivalente ao vigente em 2005. Isto força as elites dos municípios do norte fluminense a rever suas estratégias de crescimento econômico centradas na cadeia produtiva da indústria de hidrocarbonetos. Macaé, Campos e São João da Barra amargam mais de seis mil perdas de vagas de empregos no primeiro trimestre de 2016, segundo os dados do CAGED-MT.
Nesse contexto, uma liminar obtida semana passada pelo Estado do Rio de Janeiro obriga a ANP a atualizar os preços de referência dos poços que distribuem recursos para os municípios produtores do norte onde se encontram, por exemplo, a grande reserva do campo de Roncador. Isso trará certo alívio transitório. Mas até quando não sabemos.
A explosão da arrecadação dos pequenos municípios litorâneos paulistas e fluminenses da Bacia de Santos transforma-os em “novos ricos” e traz o desafio o de evitar o deslumbramento e aproveitar essa fase virtuosa na forma de uma diversificação produtiva de suas localidades.
Evitar a chamada “maldição dos recursos naturais” – tendência ao crescimento mais lento das atividades não petroleiras é o desafio. Isso pode ser evitado quando ocorre o investimento do excedente obtido com o ciclo produtivo de óleo e gás, em coisas verdadeiramente úteis para a sociedade como, cultura esclarecedora e plural, educação de qualidade, infraestrutura ambiental e econômica, ou treinamento da força de trabalho em idade produtiva.
Pensar o planejamento integrado de nosso desenvolvimento regional é uma saída inteligente e necessária. Nesse ambiente, as eleições de outubro trazem essa discussão para a ordem do dia nas nossas sociedades. Afinal o que queremos – deve ser a indagação mais importante nessa fase de transição, quando prospera o fortalecimento da energia renovável na matriz energética, regional, nacional e mundial.