*Reportagem Especial
Sputnik – O mundo continua se aproximando de uma nova crise global. O mercado está aflito diante dos sinais de recessão deflacionária prolongada e estagnação da economia, tendo como referência o que ocorreu no Japão nas últimas décadas.
A bomba programada para explodir é a dívida mundial, que no início deste ano já alcançou a impressionante cifra de US$ 244 trilhões e continua se avolumando.
ENTENDA OS EFEITOS
O custo de manutenção deste endividamento inibe o crescimento econômico, aumenta os riscos de calote e restringe a política de crédito.
Para o financista Aleksandr Lovesev, que atua com gestão de ativos, o volume de dívidas dos países criará dificuldades de refinanciamento dos débitos e cessará a política de crédito farto, que atualmente alimenta o crescimento global.
O que se prenuncia é a redução de “novos empréstimos, retração de investimentos, um crescimento econômico mais débil ou até a estagnação completa, moratórias e atrasos de pagamento […]. Outros efeitos serão as crises locais em certas regiões e indústrias que podem provocar efeito dominó, atingindo não apenas os mercados financeiros, mas também toda a economia global”.
PAÍSES PERIFÉRICOS
Um estudo do Banco Mundial alerta que quando a relação dívida/PIB supera 77% durante um longo período de tempo, o crescimento econômico se desacelera e cada ponto percentual da dívida acima deste nível custa ao país 1,7% de crescimento econômico nos países desenvolvidos.
Para os países em desenvolvimento, a situação é ainda pior: cada ponto percentual adicional de dívida acima do nível de 64% reduzirá anualmente o crescimento econômico em 2%.
“Uma crise econômica de grande escala pode levar a mudanças geopolíticas e transformar a ordem mundial existente, que se baseia na desigualdade hierárquica dos Estados, associada com ciclos econômicos longos e padrões tecnológicos, bem como em uma acumulação infinita de capital. A Rússia, bem como a maioria dos países em desenvolvimento, está na periferia desse sistema”, destaca Losev em artigo publicado no diário Kommersant.
No final de 2018, a dívida mundial do setor corporativo aumentou para US$ 72 trilhões (92% do PIB mundial), a dívida pública total atingiu US$ 65 trilhões, a dívida do setor financeiro – US$ 60 trilhões, a dívida das famílias – US$ 46 trilhões. Esses números não levam em conta o setor bancário paralelo e a economia paralela, embora os resultados dessa economia “informal” sejam refletidos nos números do PIB global por meio de gastos e consumo adicional. (Fonte: Kommersant)
NOVA ORDEM MUNDIAL
O financista prevê que “a atual ordem mundial começará a mudar rapidamente não no momento da crise, mas quando os Estados não puderem coordenar seus esforços em nível global para manter o sistema econômico e financeiro atual, os princípios e regras do comércio internacional”.
Isso levará a uma época de conflitos, à revisão de prioridades, ao protecionismo, mobilização e reindustrialização, ou seja, às prioridade de produção nacional, projetos de grande escala e desenvolvimento da ciência.
Losev aconselha a não esquecer que, em momentos de instabilidade, todas as grandes potências, em virtude de sua posição e interesses de suas elites, negócios e capital, tentam criar sua própria ordem e, até certo ponto, estão prontas para defender esta ordem de várias maneiras, incluindo opções políticas e até militares.