*Reportagem Especial | Com Sputnik
Portugal comemora, nesta quinta-feira (25), os 45 anos da Revolução dos Cravos, movimento liderado por capitães do Exército, com amplo apoio popular, que derrubou uma ditadura que chegou a completar o 48º aniversário em 1974.
A queda do regime é celebrada no país como o Dia da Liberdade e a data, 25 de abril, que marca este acontecimento, é um orgulho nacional.
O maior simbolismo do fim de uma era discricionária foi a rendição do primeiro-ministro Marcelo Caetano, o ditador de plantão, que seria escoltado para o exílio.
24 de ABRIL: O capitão Delgado Fonseca ouviu pelo rádio a canção “E Depois do Adeus”. Era o primeiro sinal para que as tropas ficassem a postos.
ENTENDA A DITADURA EM PORTUGAL
O ciclo ditatorial foi iniciado em 1926 como uma ditadura militar, mas em 1930 transformou-se numa ditadura civil.
“Era um regime autoritário de direita, mas não era particularmente violento se pensarmos nos regimes autoritários que marcaram o século XX na Europa e afora. Mas era um regime que assentava em repressão em várias medidas, na perseguição aos seus opositores e censura”, destaca a pesquisadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Filipa Raimundo, em entrevista para uma reportagem especial da agência Sputnik News.
“Portugal era um país atrasado e economicamente pobre, um pouco isolado na Europa e, ao contrário do resto dos países europeus, é um país que não fez ainda a descolonização e que mantém colônias na África que estão em guerra”, contextualiza a pesquisadora.
Fonte: Documentário | História – Youtube –
GUERRAS COLONIAIS
Em 1974, o país vivenciava a era das guerras coloniais. Militares foram destacados para todas as colônias portuguesas, mas os palcos de guerra mais importantes e com mais soldados eram a Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, regiões em que os confrontos eram mais intensos.
Havia militares também em Cabo Verde, em São Tomé, Macau, Timor. Portanto, as forças militares esgotavam-se em guerras prolongadas e invencíveis, o que ajudou a desgastar o governo.

As tensões crescentes nos locais de maior conflito deram origem ao Movimento das Forças Armadas — MFA, em 1973, formado em sua maioria por capitães que buscavam o fim dos confrontos.
“Ao fim de 13 anos de guerras coloniais, chegou-se à conclusão que só havia uma solução política e, portanto, fizeram um golpe militar para derrubar o regime e para alterar a situação política que era inevitável”, explica o historiador Luís Farinha.
Depois de uma primeira tentativa frustrada, no mês de março, as lideranças do MFA conseguiram adotar um plano bem coordenado por todo o país, começando no fim da tarde do dia 24 de abril.
ESTRATÉGIA REBELDE
As ações consistiam em deter comandantes e ocupar quartéis e outras instalações ligadas ao regime ditatorial, como as sedes da PIDE, órgãos de censura e da imprensa partidária. Também foram ocupadas sedes de rádios, televisão e o aeroporto.
25 de ABRIL: Passando um pouco da meia noite do dia 25 de abril, veio o segundo sinal, também em forma de melodia. A canção “Grândola, Vila Morena” foi tocada, dando a confirmação para que cada tropa avançasse.
Antes do amanhecer do dia 25, os objetivos estavam alcançados. O governo tentou reagir, mas os oficiais se recusaram a lutar contra o movimento.
“Foi uma revolução muito curiosa, porque o povo estava muito atrasado politicamente. As forças políticas que existiam estavam clandestinas, que era o Partido Comunista Português, e mais nada. O Partido Socialista tinha acabado de se formar na Alemanha e só tinham quadros fora. Aqui havia o partido do poder, de forma que foi realmente o povo na rua que mexeu as coisas. O bonito começou quando a população se integrou e começou a revolução a sério”, lembra Delgado Fonseca.
Com o raiar do sol no dia 25, e já informado pelos pronunciamentos do MFA via rádio, o povo foi para as ruas acompanhar a movimentação.
É na chamada “baixa de Lisboa” que fica o Quartel do Carmo, onde se concentraram o primeiro-ministro Marcelo Caetano e demais membros do governo.
Um dos momentos mais emblemáticos da ação é a movimentação no Largo do Carmo das tropas comandadas pelo capitão Salgueiro Maia, que virou o símbolo da resistência. Maia era membro da comissão coordenadora do MFA e, em 25 de abril, liderou um cerco de tanques que ocuparam o Terreiro do Paço.
Em seguida, moveu a tropa para o Largo do Carmo, de onde só saiu ao fim do dia, escoltando Marcelo Caetano para o avião que levaria o ditador para o exílio.