Uma figura que responde pelo nome de Vitor Júnior desfila com desenvoltura pelo gabinete do prefeito de Niterói (RJ), Rodrigo Neves (PDT). Segundo fontes locais, ele também exerce uma espécie de autoridade informal sobre diferentes setores do governo, já que não teria nomeação em cargo de chefia.
Estaria servindo também como interlocutor em missões espinhosas.
Discreto, mas vaidoso e ambicioso aos extremos, esse personagem tem fama de viver perigosamente, mas sempre sai de cena ao menor sinal de perigo. Quando estourou a operação Alameda, em 2018, por exemplo, Júnior saiu do radar. Ficou assustado com a prisão do chefe. Nem telefone atendia.
Amigos próximos utilizam um jargão conhecido nos círculos que atuam nos subterrâneos do poder, para definir sua invisibilidade momentânea: “ele mergulhou”. Vitor Júnior só voltou a circular quando Neves saiu da carceragem para reassumir o governo.
A Operação Alameda apurou denúncias de arrecadação de propina junto aos empresários de ônibus. O esquema teria rendido R$ 10 milhões ao grupo político.
O passe livre e autoridade ostensiva nos corredores da Prefeitura de Niterói, suscita a pergunta que não cala: que tipo de trabalho Vitor Júnior, realmente, executa para o chefe Rodrigo Neves?
O caminho para encontrar uma resposta pode residir a 262 km de distância, em Campos dos Goytacazes. Nesta cidade do Norte Fluminense, nas últimas eleições, Vitor Júnior foi o homem do prefeito de Niterói na campanha de Caio Vianna (PDT), segundo colocado na disputa. Rodrigo Neves foi o principal patrono do candidato. Por conta disso, uma equipe de Niterói foi deslocada para a cidade e ficou hospedada no Apart Hotel Soho durante toda a campanha.
“Ele (Vitor Júnior) foi muito mais que um simples articulador. Sei muito bem o que ele transportava na bagagem”, diz o ex-candidato à Câmara de Vereadores pelo PDT, Thiago Seixas.
Com dinheiro em caixa e pretensões eleitorais além da fronteira de Niterói, o prefeito sonhava em disputar o governo do Estado em 2022. Isso o levou a patrocinar candidaturas fora de Niterói.
FÁBRICA DE ENCRENCAS
Niterói-RJ é uma cidade bilionária. A estimativa do orçamento para o ano de 2021 ultrapassa R$ 3 bilhões. As finanças estão turbinadas pela elevação da produção de petróleo na camada do pré-sal, o que rende uma fortuna em royalties e Participação Especial aos cofres públicos municipais.
O dinheiro elevou a cidade no patamar da corrupção. Na quarta-feira (16), a pedido do Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) autorizou a execução de novos mandados buscas e apreensões contra Neves e 11 alvos (entre empresas e pessoas físicas) no âmbito da Operação Transoceânica.
A justiça também autorizou a quebra de sigilo telemático, bancário e fiscal dos investigados.
Fonte: Canal VIU/Youtube
As apurações, segundo o MPF, são desdobramentos da Operação Lava Jato, mirando dois esquemas criminosos mantidos desde 2013 na Prefeitura de Niterói e no Tribunal de Contas do Estado (TCE/RJ). As denúncias são fundamentadas em delações de colaboradores como publicitário Renato Pereira, dono da Prole, e do ex-presidente do TTCE-RJ Jonas Lopes de Carvalho.
ENTENDA O CASO
O esquema teria atuado em licitações marcadas por fraude e por corrupção (na publicidade oficial e BRT Transoceânica) e em pagamentos indevidos a conselheiros do TCE que já estão afastados de suas respectivas funções por decisão da justiça
Os novos mandados foram autorizados pelo relator do caso no TRF-2, desembargador federal Marcello Granado, que concordou com o MPF que as medidas são necessárias para somar elementos à apuração, preservar provas materiais e identificar bens e outros proveitos dos crimes para garantir eventual reparação de prejuízos aos cofres públicos.
As investigações devem continuar avançando para rastrear o destino do dinheiro obtido com a suposta propina. É possível que uma parte tenha financiado campanhas municipais neste ano de 2020. Neste caso, o ex-candidato a vereador Thiago Seixas o que falar.
Se isso ficar comprovado, será a constatação de que o suposto esquema criminoso teve continuidade mesmo diante das investigações em curso.
“Interessante observar a viagem de emissários a São Paulo. Pelo menos três de Campos fizeram este percurso e missão arriscada. Isso vai explodir”, disse.
Mas não foi só em Campos. As digitais do prefeito de Niterói também estão nas disputas pelas Prefeituras de Cabo Frio, na região dos Lagos, e São Gonçalo, na região Metropolitana.