Também conhecida como Síndrome Fibromiálgica é a segunda condição mais comum que afeta ossos e músculos, atrás apenas da artrite. Ainda não se sabe a origem da doença, que é descrita como uma forma generalizada de reumatismo extra-articular não inflamatório.
Várias pesquisas indicam anormalidades na recepção dos neurotransmissores, podendo ser resultado de um estresse prolongado.
A maioria dos pacientes passa por muitos especialistas até descobrir ser portador da Fibromialgia. O estresse contínuo causado – inicialmente pela dificuldade em fechar o diagnóstico – aliada a dor difusa, a fadiga e o desânimo podem abalar as concepções sobre o mundo e os relacionamentos daqueles que sofrem com a doença.
Apesar dos sintomas serem variados não existe qualquer alteração nos exames físicos e laboratoriais, o que torna mais difícil o diagnóstico. Entre os sintomas estão as dores generalizadas e constantes, a fadiga, a falta de disposição e energia, o sono pouco reparador, a cefaleia, além de distúrbios emocionais e psicológicos. Alguns pacientes apresentam sensibilidade durante a micção e a síndrome do cólon irritável.
Benefícios do tratamento psicológico
A psicoterapia é indispensável para lidar com a Fibromialgia, já que 20% dos pacientes sofrem de ansiedade ou depressão. Segundo o psicólogo Rodrigo Monteiro, 39 anos, que trabalha no Hospital Unimed Rio, a pessoa que tem dor crônica sente como se milhares de agulhas estivessem espetadas no seu corpo de maneira constante, afetando a sua vida não só no nível físico, mas também emocional, cognitivo e relacional.

“Por debilitar tanto, a síndrome causa um grande impacto social para os pacientes, que em casos mais severos precisam se afastar do trabalho ou escola por conta das dores. Com a síndrome, problemas emocionais como ansiedade e depressão podem se agravar gerando uma piora generalizada e uma mudança em todos os aspectos da vida do paciente. A depressão pode aumentar a sensação de dor, a incapacidade e tornar a adesão ao tratamento ainda mais difícil”
O atendimento psicológico trabalhará a aceitação e o empoderamento da pessoa e deve ser realizado uma vez por semana. Entre os benefícios estão a redução da ansiedade, a compreensão dos gatilhos emocionais, a diminuição dos sintomas, além do aprendizado e a conscientização de como as emoções podem gerar sintomas. Técnicas de autocontrole e outras abordagens tendem a modificar a influência negativa das emoções, promovendo maior assertividade para lidar com os sentimentos.
Segundo o psicólogo, a psicoterapia pode aumentar o sentimento de “controle sobre a própria vida”, promover maior relaxamento e a conscientização sobre como as emoções afetam o ciclo da dor. Todos estes fatores contribuem para a reconstrução de um novo plano de vida, mediante maior identificação dos padrões de pensamento e das distorções cognitivas impeditivas de transformação no modo de pensar.
A dor da Fibromialgia é real
É comum que a veracidade dos sintomas seja questionada pelos familiares e pessoas próximas ao paciente, aumentando ainda mais a ansiedade e a depressão. Em muitas ocasiões é necessário que se esclareçam as dúvidas não só do paciente, mas também de seus familiares para que haja compreensão dos desafios e dores de quem vive com a síndrome.
Profissionais da equipe multidisciplinar (médicos, psicólogos, fisioterapeutas) podem acalmar o portador da síndrome ao assegurar-lhe que seus sintomas são reais e não fruto de sua imaginação e que também não estão relacionados a uma doença mais grave.
Para Rodrigo Monteiro, as pessoas próximas e os amigos também experimentam alguma dificuldade, especialmente quando a ignorância, a incompreensão ou o cansaço tomam as rédeas da situação.
“Como já enfrentaram diferentes tipos de dor ao longo das suas vidas, familiares e amigos acreditam que tem a capacidade de compreender o que está acontecendo. No entanto, como é algo subjetivo e dependente das próprias sensações, fica muito difícil para as pessoas se colocarem na situação da pessoa que sofre com a síndrome”
Tratamento e alívio da dor
Não há cura para fibromialgia, mas o controle do estresse e hábitos saudáveis pode aliviar os sintomas e garantir uma vida normal e ativa. O tratamento é realizado através do emprego de medicamentos (antidepressivos, relaxantes musculares e neuromoduladores) e de outras medidas não medicamentosas, como a atividade física, a acupuntura, o acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico, entre outros.
Todo indivíduo acometido pela Fibromialgia obrigatoriamente deve praticar alguma modalidade de atividade física. Em geral o paciente tem a liberdade de escolher aquela na qual se ajusta melhor. A preferência deve ser dada a atividades aeróbicas, como andar, nadar, mas a hidroginástica, alongamento ou fortalecimento muscular deve ser apoiado, pois algum beneficio com estas modalidades de atividade física também é observado.
Nos pacientes que apresentam sintomas em outros órgãos como o intestino (colón irritável), bexiga (cistite intersticial), cabeça (enxaqueca), às vezes há necessidade de avaliações e acompanhamento de médicos de outras especialidades.
Grandes perdas, estresse, dores generalizadas e o diagnóstico da Fibromialgia
Ansiedade, depressão, experiências traumáticas, situações de estresse e dores difusas são pontos em comum de Carolina, Simone Marise e Anna Maria – mulheres de uma mesma família diagnosticadas com a doença.
A morte do ex-namorado foi o gatilho para o desenvolvimento da doença de Caroline Delgado, antropóloga, diagnosticada há 19 anos com Fibromialgia. Logo após o enterro, ela começou a sentir dores fortíssimas, na época relacionadas à perda do ente querido.
Com a permanência das dores, a fadiga, o desânimo e os constantes problemas para dormir, ela buscou auxílio médico. Após realizar uma série de exames e todos estarem normais, ela recebeu o diagnóstico de Fibromialgia. Adepta das Terapias holísticas, faz Yoga, massagens e terapia para conviver com a doença.
“A aceitação é complicadíssima de todos os lados. Eu arriscaria dizer que quem mais entende sobre isso é o meu filho, porque ele cresceu vendo o que eu tinha. De resto, toda a minha rede, de trabalho, de família, de relacionamento tem muita dificuldade em entender o que é a Fibromialgia. Eu tenho fama de que durmo horrores e na verdade eu durmo muito mal. Em 365 dias, eu tenho 5 dias de sono bom. É difícil de explicar porque dói o corpo todo e não tem nada tangível”
A morte do pai, aos 29 anos foi o gatilho para a doença da professora de História Simone Motta, de 55 anos. Inicialmente foi diagnosticada somente com a depressão do luto. Com o tempo, além da depressão vieram as dores difusas e generalizadas.
O estresse contínuo de uma vida agitada desencadeou novas dores e os sintomas variados característicos da doença. Após fazer todos os exames foi diagnosticada com a Fibromialgia. Começou um tratamento com psiquiatra, psicólogo e fisiatra para lidar com a dor e os episódios de ansiedade. Atualmente, faz terapia, hidroginástica, busca o autoconhecimento e é adepta das terapias holísticas.
“A crise é sempre desencadeada por algo emocional. A última vez que tive uma crise muito forte foi quando eu perdi a minha irmã, em 2015. O que incomoda muito é a descrença das pessoas e o deboche. Ainda hoje a pessoa que é portadora da Fibromialgia passa por situações complicadas. A maioria das pessoas da família, do trabalho, os amigos não entende a sua indisposição e o desânimo que ocorre em alguns momentos para realizar alguma atividade social ou quando as dores te impedem de fazer atividades simples”
Marise Motta (55) professora de Educação Física da Rede Pública de Ensino do Rio de Janeiro relata conviver com dores desde a infância e não saber ao certo quando começou a desenvolver os sintomas.
O diagnóstico foi complicado, uma vez que ela associava as dores a outras questões. Após períodos mais complicados de dores e ansiedade conseguiu ter o diagnóstico revelado por uma fisiatra, que lhe esclareceu melhor sobre a doença.
A professora continua convivendo com as dores. Atualmente faz tratamento medicamentoso e está buscando adotar ma dieta alimentar mais equilibrada, além da prática constante de Zumba, atividade que escolheu para exercitar o corpo, que é uma das maiores recomendações para quem sofre de Fibromialgia.
” ‘Você é preguiçosa’. Eu ouvi isso desde nova e era tanto, que até duvidava. No meu registro de memória, eu sempre me lembro de sentir dores nas coisas mais simples do dia a dia: como pegar um ônibus, sentar em uma cadeira incômoda, caminhar, além das dores constantes de cabeça, que eu associava a outras coisas. Eu sofro de insônia desde criança, mas com a Fibromialgia, mesmo que você durma, acorda muitas vezes como se tivesse levado uma surra”
Durante a vida, algumas situações como a perda de um cunhado, de uma sobrinha e ter sofrido um AVC potencializaram as dores pelo corpo que a aposentada Anna Maria Ribeiro, de 84 anos, sempre sentiu.
“Sempre fui muito ativa, mas também muito ansiosa, nervosa e preocupada com todos a minha volta. Faço Yoga há mais de 60 anos, além de dança de salão. Ter essa rotina fez minimizar as dores da Fibromialgia, que só foi diagnosticada depois de muitos anos convivendo com as dores, a ansiedade e todo desconforto que traz a doença”