Policiais do Rio de Janeiro convivem com mortes em serviço e enfrentam dificuldades para ingresso no curso de oficiais;
Da redação
Enquanto as estatísticas registram um número alarmante de Policiais Militares assassinados no Rio de Janeiro este ano, os praças da corporação enfrentam situações internas difíceis de superar, além do recorde de mortes entre os companheiros de farda.
A falta de estrutura operacional, justificada pela crise na Segurança, é uma delas. Mas os policiais vêm reclamando também de mudanças no regimento da PM, que resultam em obstáculos na ascensão no plano de carreira.
O tradicional Concurso de Formação para Oficiais (CFO) da PM do Rio foi anunciado em janeiro de 2017, mas nem todos os militares interessados conseguiram fazer a inscrição com a mesma facilidade dos anos anteriores. O exame, pela primeira vez, exigiu dos candidatos formação superior em Direito.
A Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais e a Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio elogiaram a iniciativa do comando. Na via contrária, a maioria dos praças e boa parte dos oficiais acha que a alteração nas normas do concurso gera entrave na escalada por cargos com melhor remuneração.
PETIÇÃO ONLINE
Em dezembro do ano passado, uma petição online pedia a anulação do edital do concurso para oficiais, organizada por candidatos que se sentiram prejudicados com a obrigatoriedade do curso superior em Direito. Na época, o coronel Roberto Vianna, comandante da Academia de Polícia Militar Dom João VI, afirmou que a mudança visava uma melhor prestação de serviço. “O PM atua na rua como defensor dos direitos”, disse.
O coronel Paulo Ricardo Paúl, ex-corregedor da PM do Rio, acredita que a alteração “gera um ganho institucional, considerando que grande parte da carga horária do CFO era de matérias jurídicas. O curso pode ser comprimido e com maior carga horária aplicada nas técnicas policiais. Perderam os PMs e ganhou a instituição. Uma contradição”, avalia a coronel.
FORÇA NACIONAL PARA DECORAÇÃO
O soldado da PM que conversou com o Porta VIU!, mas pediu para não ser identificado, considera que a chegada da Força Nacional de Segurança ao Rio “só serviu para comer o dinheiro que poderia ser usado para pagar os salários e adicionais dos PMs”. Segundo o policial, amigos que atuam na Força Nacional contam que a ordem dada pelo comando é de “não ter guerra”.
“O trabalho mais arriscado continua para a PM, que nem salário recebe em dia”, reclama o militar.
Ele diz ainda que policiais nas UPPs [Unidade de Polícia Pacificadora] estão “acuados” por traficantes em comunidades e trabalhando com equipamentos sucateados e locações deprimentes.
“Realmente aqui é complicado de bancar, os caras têm muitas armas. O morro tem muita pistola, radinho. Até granada pendurada no cinto eles estão passando [em frente à UPP]. Tem até submetralhadora. Passam apontando para a gente”, conta outro PM lotado em uma UPP na Zona Norte.
Os dois PMs entrevistados pretendiam fazer o CFO, mas ficaram na peneira do novo regimento. “Como estudar para entrar numa faculdade trabalhando da forma desumana como estamos? Sem receber [os salários em dia]? A maioria que estava estudando no ano passado para fazer o concurso no início deste ano não pode fazer a inscrição”, critica o policial.
Segundo eles, os policiais do interior do estado lotados nas UPPs vivem as piores situações. “Estes perderam as gratificações, mas são obrigados a permanecer nos batalhões na Capital. Como se já não fosse ruim, mesmo com as gratificações. Tem PM que gasta 200 [reais] para chegar no seu batalhão”, conta o soldado.