Renato Abreu, o mecenas e executivo da MPE que emerge na 16ª fase da Operação Lava Jato |
De São Fidélis, no Norte Fluminense |
Alvo da 16ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Operação Radioatividade, o diretor-presidente licenciado da Eletronuclear e vice-almirante da Marinha Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso hoje (28/07) pela Polícia Federal (PF), recebeu cerca de R$ 4,5 milhões de propina do consórcio vencedor da licitação para a montagem da Usina Nuclear Angra 3, na cidade de Angra dos Reis. As informações constam no inquérito do Ministério Público Federal.
Outro nome que surge nesta nova etapa é do empresário Renato Abreu, do grupo MPE. Ele é um dos citados em mandados de busca e apreensão realizados pela Polícia Federal. Natural da cidade de São Fidélis, no Norte Fluminense, Abreu também é investigado nos escândalos da Petrobras.

Atualmente ele é parceiro da Cooperativa de Produtores de Cana, Coagro, na Usina Sapucaia, na cidade de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. O grupo também é proprietário de duas emissoras de rádio afiliadas a Band FM. Seu nome, apesar de figurar como um dos investigados pela Lava Jato, até recentemente era tratado ainda com certa discrição pela mídia regional. Sempre gostou da imagem de mecenas de boas ações, da mesma forma que procura viver próximo ao poder. As doações generosas para as campanhas de políticos amigos funciona com certa eficiência nessas situações.
Talvez, isso explique a facilidade com que o seu grupo sempre consegue acesso as fontes oficiais de financiamentos. Já obteve recursos do BNDES, governo do Estado e também do Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam). Mas alguns de seus negócios financiados com recursos públicos tem uma peculiaridade: não tem continuidade e sempre é vendido no meio do caminho. Foi assim, por exemplo, com a Fábrica de Sucos Bela Joana, localizada na divisa entre Campos e São Fidélis. Turbinada com verbas oficiais, a fábrica foi vendida por um grupo do Sul do Brasil depois de ficar vários meses fechada.
Abreu, recentemente, participou da recepção ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), na usina Sapucaia. Sua aparição mereceu um destaque na coluna Roberto Barbosa, publicada em O Diário. Foi a única menção mais recente ao seu nome na mídia onde já foi manchete com fama de benemérito.
Caminhos da propina
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, o consórcio formado pelas empresas Camargo Corrêa, UTC, Andrade Gutierrez, Odebrecht, EBE e Queiroz Galvão repassava recursos para empresas intermediárias, que repassavam a propina para Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, que integra a força-tarefa, o repasse de recurso ao então diretor-presidente da Eletronuclear ocorreu até dezembro do ano passado, nove meses depois de deflagrada a Lava Jato e após a prisão de vários empreiteiros.
“Há indícios de pagamento de propina por parte da Andrade Gutierrez em contratos desde 2009 para uma empresa de propriedade de Othon Luiz. Os elementos indicam que Othon Luiz recebeu R$ 4,5 milhões”, disse. “A corrupção no Brasil é endêmica e está espalhada por vários órgãos, em metástase”, acrescentou o procurador, comparando a corrupção ao momento em que o câncer se espalha por vários órgãos do corpo.
A 16ª fase da Lava Jato, batizada de Radioatividade, foi desencadeada a partir do depoimento do executivo da Camargo Corrêa Dalton Avancini, que assinou acordo de delação premiada com a Justiça Federal. Na delação, ele revelou a existência de um cartel nas contratações de obras da Angra 3 e chegou a citar Othon Luiz Silva como beneficiário de propinas.
Na ocasião, Silva negou ter participado ou conhecimento de qualquer irregularidade. Em nota à época, ele afirmou que jamais recebeu propina e que vive de sua aposentadoria da Marinha e de seus vencimentos como presidente da Eletronuclear. Ele se afastou do cargo em 29 de abril, após ser citado na Lava Jato.
“A palavra do colaborador não leva à prisão, mesmo que temporária. Fizemos o nosso trabalho e levantamos as confirmações”, explicou o procurador.
Também foi preso o presidente global da AG Energia, Flávio Barra, subsidiária da Andrade Gutierrez. Em nota, divulgada hoje, a Andrade Gutierrez informou que está acompanhando a 16ª fase da operação e destacou “que sempre esteve à disposição da Justiça”. Os advogados da empresa estão analisando a ação da PF para se pronunciar. A Eletronuclear informou que vai se pronunciar em nota sobre o caso.
Os presos temporários serão levados hoje para Curitiba, onde se concentram os processos da Lava Jato. De acordo com a PF, a previsão é que cheguem à capital paranaense por volta das 20h e já prestem depoimento amanhã (29/07).
*Com informações da Agência Brasil