O brasileiro é uma Arara Versátil: entendam como quiser. O poema intitulado Araras Versáteis está na lista de uma das obras primas da escritora que será homenageada na festa literária de Paraty;
Foto: Revista CULT
Sempre na intenção de dar de primeira mão os assuntos que interessam no campo das Artes e Literatura, venho hoje (27) colocar o povo brasileiro na berlinda. Mas na verdade vou fazer uma curta análise do poema de Hilda Hilst, de nome Araras Versáteis, que está na lista de uma das suas obras primas, O Caderno Rosa de Lori Lamby, apesar de criticado por alguns que não sacam a exatidão da física quântica de HH. Eis o poema:
Araras versáteis
Araras versáteis. Prato de anêmonas.
O efebo passou entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca
E vergastou a cona com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Quando no instante alguém
Numa manobra ágil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calças
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii…
E gozaram os três entre os pios dos pássaros
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.
Esse é o poema escrito pelo pai de Lori lamby em O Caderno Rosa de Lori Lamby, pimeiro da trilogia kitsch-obscena de HH e que Lori encontrou na prateleira entre os originais intitulados “Bosta”. Trata-se de uma das tentativas do pai de escrever algo pornô, encomendado pelo Editor. Quero atentar para a composição do poema, requintada, cômica e lúdica ao mesmo tempo. A poeta entrelaça metáforas obscenas ricas (“mornura das calças e do dia”), uma alusão ao fogo da libido num dia tropical e ensolarado, num misto de vocábulos preciosos (“trêfegas”) e comuns (“jovem marinheiro”). Compõe uma história com enredo, cenário e ação. Fá-lo, no entanto, rimando anêmonas com trêfegas (rima toante e preciosa), caract4erizando uma preocupação gaiata com a estética parnasiana. As personagens, que compõem uma cena absolutamente circense, se entregam numa orgia kitsch. Consome estereótipos da natureza brasileira (araras que se tornam ornamentáveis), por exemplo, utilizando-as para, ao mostrar-nos certos efeitos previamente esboçados, provocar talvez um efeito de choque pseudopornô.
A análise está completa no livro TER SIDO ESTAR SENDO – A prosa poética de Hilda Hilst. Dou-lhes uma prévia.
Mas e o brasileiro? Certamente estão todos experimentando a manobra de marinheiro: se a pornografia se funda na ilusão, seja para argumentar contra ou a favor dela, o engodo, a armadilha, a alucinação, a simulação, o escárnio, etc. teriam que apontar para uma mesma direção: e hoje apontam para o cu dos brasileiros, burlando-nos pelo segredo da interdição do roubo, da armadilha e do golpe, enquanto olhamos para as araras versáteis do futebol. Onze milionários correndo atrás de uma bola e todos sentindo o cheiro nauseabundo vindo do ânus fétido e rindo dos gols. O Brasil é uma história porneia!