Embora eu vá falar acerca do que escrevi, os meus livros, os meus artigos e outros trabalhos, acontece que, infelizmente, esqueço o que escrevo quase imediatamente depois de acabar. Provavelmente isso trará alguns problemas. Creio, no entanto, que há alguma coisa de significativo no fato de eu nem sequer ter a sensação de haver escrito os meus livros. Tenho, ao contrário, a sensação de que os livros são escritos através de mim, e, logo que acabam de me atravessar, sinto -me vazio e em mim nada fica. (Claude Levi – Strauss, Mito e significado, Intro)
O intercâmbio entre o mundo material e o que a Doutrina Espírita chama de o mundo espiritual é uma prática que se desenvolveu no seio das grandes civilizações antigas e arcaicas, independente da religião ou credo adotados por aqueles sistemas político-sociais.
Essas civilizações, ditas superiores, mesmo para os critérios do panorama do mundo vigente, não escondiam essas práticas e as utilizavam para os mais diferentes fins.
Na Grécia Antiga, conhecemos os Oráculos e suas médiuns (conhecidas com o nome de pitonisas) que, ora burlavam a fé pública, prometendo desvendar o futuro, dar soluções para pequenos problemas do cotidiano; ora se concentravam para o contato com uma ordem de espíritos superiores, na intenção de orientar os seres encarnados nas suas descobertas, em diferentes campos do conhecimento humano, e também na busca de experiências estéticas, no interesse de aprimorar as condições da sensibilidade humana.
Este processo era desencadeado e controlado em condições excepcionais de recepção dos mais variados conteúdos de mensagens e comunicação, pelas modalidades mediúnicas da psicofonia (mais frequentemente) e da psicografia, ou seja, pela fala ou escrita diretas de um espírito, o que exigia um lugar e pessoas que pudessem garantir a qualidade e a confiabilidade dessas comunicações.
Essas interferências ostensivas dos espíritos, pela intermediação mediúnica, revelou ao mundo uma prática utilizada pela humanidade, ao longo dos séculos.
Outras civilizações, detentoras de tecnologias e saberes para iniciados; conhecimentos científicos, que ainda hoje estão para serem compreendidos e sistematizados. Essas civilizações desenvolveram estudos sobre a comunicação transcendental, com uma prática de caráter experimental paralela, que a deixaram, propositadamente, fora do alcance do domínio público.
A civilização egípcia, que recebeu a missão de popularizar esses conhecimentos, não cumpriu com sua missão. É o que veremos a seguir.
Espíritos encarnados (em território egípcio, principalmente) posicionados na vanguarda dos novos conhecimentos, conhecimentos que deveriam ter sido levados e traduzidos em linguagem do povo, para a sua imediata compreensão, podendo, com mais celeridade, conhecerem os ensinamentos ético-morais e tecnológicos, mas que, ao contrário, ao impedirem que as classes populares entrassem em contato com esses conhecimentos e tecnologias, além de preceitos morais, contribuíram para retardar a marcha do progresso moral e científico da humanidade.
A civilização egípcia que, por achar que estaria sendo privilegiada, por estar em permanente contato com conhecimentos tão superiores, surpreendentes e reveladores, tomaram uma decisão equivocada: essas revelações deveriam ser mantidas escondidas, no seu entendimento equivocado, guardadas longe do alcance do grande público, fora do alcance do homem comum. Fato que contribuiu para o atraso da marcha evolutiva da humanidade.
Mas, entre os povos primitivos, o exercício da mediunidade era uma prática coletiva, podendo ou não ser desenvolvida através de castas hierarquizadas, mas que, no entanto, a divulgação do conhecimento de suas práticas e seu resultado positivo eram garantidos a todos.