Mês de junho, mês de se comemorar Santo Antônio, São Pedro e São João e os fogos de artifícios são símbolos dessa grandiosa Festa. Por aqui entre nós um outro Antônio está fazendo grande falta: Antônio Roberto de Góis Cavalcanti – Kapi, a quem a Geleia Geral presta homenagem com este belo poema de Fernando Leite Fernandes:
Da série: Poesia para o irrequieto, Kapi, que significa (porque eu quero) sol em Tupi Guarani.
O DESTINO DOS POETAS ENCANTADOS | Por Fernando Leite
Kapi,
carpiste a Poesia
como poucos,
como os loucos,
que à tua semelhança
não pisam a pele do chão.
Levitam, gravitam,
é gente feita de sol.
És da legião das letras
dos que são únicos e plurais,
doidivanas e samurais,
pós modernos e ancestrais,
tudo e um pouco mais.
Para onde fostes?
Para a pátria dos poetas universais,
Pasárgada, talvez.
Imagino-te explicando a Garcia Lorca
com tua fluência verbal caudalosa
como se faz poesia com verso torto
na língua de Guimarães Rosa.
Ave, Kapi!

Geleia Geral – ReVirando a Tropicália
Semana de 22 – 100 Anos Depois
Dia 24 – junho – 19h – Santa Paciência
Local: Casa Criativa, Rua Barão de Miracema, 81
Campos ex-dos Goytacazes-RJ
Por onde andará macunaíma
por onde andará macunaíma
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de macunaíma
na veia do seu pescoço?
Ficha técnica:
Artur Gomes – voz na poesia
Beth Rocha – piano
Marcela Roza – voz
Reubes Pess – voz e violão
Winston Churchill Rangel – voz e violão
Tem mais: Bate papo e sessão de autógrafos com Artur Gomes e Winston Churchill Rangel e lançamento do CD AlmaFazArte de Reubes Pess.
Fulinaíma MultiProjetos
produção gráfica: Tchello d´Barros (fulinaima@gmail.com)
Tel. e Whatsapp: 22 99815-1268

Intervenção junina
Um poema escrito especialmente para a intervenção poética: Poesia Viva Poesia – Dia 25 – junho – 2022 – no SESC Campos:
era uma noite de junho
inverno não primavera
e eu de poema em punho
fazendo cantigas de amor para ela
mas ela não veio me ver
do outro lado da janela
era uma moça distante
que eu chamava FlorBela
quantas noites sonhei Florbela
em minha cama sozinho
pensando na cama dela
bebia beijos e vinho
era uma vez uma rua
que tinha nome de formosa
não era grande sertão
nem eu era Guimarães rosa
mas era noite de junho
e mesmo assim
me sentia um riobaldo
amando diadorim
como se fosse lua cheia
clara como clarão
ela toca fogo em minha pele
incendeia meu coração
e 24 de junho
é noite de são joão
e meus fogos de artifícios
são pra chamar sua atenção
a moça que nunca veio
do outro lado da janela
não sabe que é tudo dela
meu céu meu mar meu chão

AQUELA MULHER SEM NOME | Por Ademir Assunção
qual o nome daquela mulher sem nome
sentada na calçada, na porta do restaurante,
pedindo que uma boa alma pague
um prato de comida para seus filhos
— um de colo, outro de uns 4 anos?
será que aquela mulher tem um endereço
onde possa receber cartas?
será que tem um perfil no facebook
para contatar velhas amigas de escola?
será que vai ao supermercado fazer compras?
será que algum homem se importa
com aquela mulher sem nome?
será que alguma mão, mesmo áspera,
faz carinhos naquela mulher?
será que alguém beija aquela mulher?
será que aquela mulher sem nome
alguma vez ouviu falar em clitóris?
será que gosta de sexo oral?
será que teve algum prazer nas noites
em que engravidou daquelas crianças?
certamente aquela mulher sem nome
tem um nome, e foi criança, algum dia.
será que ganhou presentes de natal?
será que era coberta nas noites de frio?
será que viu desenho animado na TV?
ou sempre pediu dinheiro nas ruas?
ou sempre se vestiu com roupas velhas?
ou sempre foi tratada aos bofetões?
ou sempre comeu o pão seco, duro,
embolorado e encontrado no lixo?
como aquela mulher sem nome chegou ali,
na calçada, na porta do restaurante?
será que nunca teve sorte na vida?
será que nunca teve juízo?
será que perdeu o pai numa briga de faca?
será que perdeu uma criança num incêndio?
aquela mulher sem nome, de olhos tristes,
muito tristes, parece amar suas crianças.
talvez nem saiba mais, ou nunca soube,
o que é aquilo que atende pelo nome de amor.
mas se você olhasse, bem de perto, veria
ternura, além de tristeza, naquele olhar.
se você olhasse, bem de perto, veria,
por detrás da sujeira, da dureza ou
da desesperança daqueles olhos tristes,
alguma ternura, sim, alguma ternura,
o que deixava ainda mais triste o olhar
de quem olhava aquela mulher sem nome
sentada na calçada, na porta do restaurante,
pedindo que uma boa alma pagasse
um prato de comida para seus filhos
— um de colo, outro de uns 4 anos
* Do livro Risca Faca (2021), Selo Demônio Negro