O Manifesto Antropofágico foi publicado na primeira edição da Revista de Antropofagia, meio de comunicação responsável pela difusão do movimento antropofágico brasileiro (Semana da Arte Moderna, 1922).
A linguagem do manifesto é majoritariamente metafórica, contendo fragmentos poéticos bem-humorados e torna-se a fonte teórica principal do movimento.
Durante o desenvolvimento do manifesto, Oswald utilizou teorias de diversos autores e pensadores mundiais, como Freud, Marx, Breton, Francis Picabia, Rousseau, Montaigne e Hermann Keyserling.
Combinadas as idéias destes autores e a ideologia desenvolvida por Oswald, retomam-se características dos primórdios da formação cultural brasileira: a combinação das culturas primitivas (indígena e africana) e da cultura latina, formada pela colonização européia. E forma-se o conceito errôneo de caracterizar, perante a colonização, o selvagem como elemento agressivo.
Manifesto Antropofagista
Só a ANTROPOFAGIA nos une socialmente. Economicamente. Politicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com os sustos da psicologia impressa.
Essência antropofagista
Por onde andará Macunaíma (Artur Gomes)
Era uma vez um mangue
e por onde andará Macunaíma
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe
algum vestígio de Macunaíma
na veia do seu pescoço?
por onde andará macunaíma
nos porões das oficinas
nos balcões de supermercados
na linguagem fulinaíma
nas florestas de Roraima
no eldorado pindorama
ou na anti tese de mestrado?
Do baú de Joilson Bessa
Meninos no sinal (Joilson Bessa)
meninos no sinal
meninos vendem balas no sinal
sem saber da doçura da calda do caramelo
vendem a gostosura do açúcar de
lindo na boca
meninos vendem panos no sinal
sem saber da estrutura da trama do retalho
vendem a urdidura do tecido des
fiando nas mãos
meninos vendem sonhos no sinal
sem saber das pinturas de goya van gogh dalí
vendem releituras da tinta des
manchando na cara
meninos vendem balas panos sonhos
cheios de facas fomes malabares fogo
vendem com pernas de pau risos que des
aparecem no sinal
O poema de Joilson Bessa foi escrito em 09 de dezembro de 2020 (a caminho do Trianon para mais uma reunião do Funcultura), revisto no dia 04 de fevereiro de 2021 e submetido para publicação na Revista Sede de Ler.

Novo livro de Salgado Maranhão
O grande poeta Salgado Maranhão lançou nesta última semana, em Lisboa, o seu livro A Cor Da Palavra, prêmio de melhor livro de poesia em 2001 pela Academia Brasileira de Letras.
A primeira edição deste livro no Brasil foi lançada em 2010. Salgado é um dos grande poetas brasileiros vivo, o acompanho desde que no início dos anos de 1970 uma canção dele em parceria com Herman Torres foi gravada por Zizi Possi e fez enorme sucesso.
Alguns anos depois foi lançado pelo selo SESC Rio, o CD Amoragio com poesias musicadas cantadas por grandes ícones da MPB como Alba Ramalho, Ivan Lins, Paulinho da Viola, Zeca Baleiro, entre outros.
A cor da palavra
Poeta é o que esplende
a labareda entranhada
ao rugir
das pequenas agonias.
Assim se erguem
(em meio ao tropel dos dias)
as cidades da memória:
contêineres feitos de gestos,
palavras incendidas de milagres;
assim se alumbra o coração
em seu charco de prímulas:
este atol que atou-me
à borda do deserto e ao sangue
em que partilho
estas horas carnívoras,
tangido a barlavento
por minhas perdidas ítacas.
*MARANHÃO, Salgado. “Tear de prismas”. A cor da palavra. Rio de Janeiro: Imago: Fundação Biblioteca Nacional, 2009.

Jura Secreta 43 (Artur Gomes)
veraCidade
por quê trancar as portas
tentar proibir as entradas
se já habito os teus cinco sentidos
e as janelas estão escancaradas ?
um beija flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego
signo de comunicação indecifrável
eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés
agulha nos meus dedos
quando piso na Augusta
o poema dá um tapa na cara da Paulista
flutuar na zona do perigo
entre o real e o imaginário
João Guimarães Rosa
Caio Prado
Martins Fontes
um bacanal de ruas tortas
eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
Do livro Juras Secretas
*Editora Penalux – 2018