As obras de J. Veiga que são vistas como parte de um “ciclo sombrio” tem seu término em 1982 com a publicação de Aquele Mundo de Vasabarros, história de um reino “fora do mundo” que tem muito a ver com este mundo preso a sistemas de tirania – os interditos sociais.
De Jogos e Festas (1980) foi de sair do ciclo sombrio, mas acabou retratando temas não muito distantes dos já tratados nas obras anteriores. No mesmo ano, a Editora Comunicação, de Belo Horizonte, publica o livro infanto-juvenil O Professor Burrime as Quatro Calamidades retratando a vida de professor numa forma realista e singela (Potenciano:1990).
Em Torvelinho Dia e Noite(1985), fugindo da atmosfera pesada de Vasabarros, da Tribo e Manarairema, na ânsia de abordar um ambiente ainda marcado pelo insólito, mas opressão sufocante, Veiga conta uma história de nossos dias, com um otimismo desconfiado, em uma linguagem urbana comum, permeada por sustos e boas surpresas.
A casca da Serpente (1989) é a retomada de Os Sertões, de Euclides da Cunha, caracterizando-se como uma nova vertente da nossa Literatura, a do novo romance histórico que teria, segundo Potenciano, em Ana Miranda o principal expoente.
Em 1992 é a vez do romance O Risonho Cavalo do Príncipe cuja história aparentemente simplória revela um conteúdo crítico sobre o qual o próprio Veiga se expressa:
Tenho um livro, chamado O Risonho Cavalo do
Príncipe, em que há um reino, onde o príncipe
tem um cavalo. Esse cavalo tem uma percepção
especial para conversa fiada, lero-lero,
nhém-nhém-nhém. Então, iam delegações
estrangeiras pedir empréstimo, com conversas
fantásticas, e o cavalo sorria. Quando o
cavalo sorria, o príncipe já ficava sabendo
do que se tratava. Essa é uma história que se
aplica bem ao caso de Fernando Henrique (J.
Veiga em entrevista ao Jornal Opção em 1996).
Seu retorno ao conto, segundo Comitti (1998), se faz de forma magistral, em um volume em que cada conto, contido e denso, faz o insólito saltar da banalidade. Veiga retornou ao que sempre fez de melhor: a narrativa curta, enxuta, capaz de buscar o inesperado no elemento temático desgastado ou na situação social demasiadamente repetitiva.
A publicação de Objetos Turbulentos (1997) é quase uma homenagem a seu grande amigo João Guimarães Rosa. Ainda segundo esse crítico, trata-se de uma exaltação àquele tom de antigos diálogos intelectuais perdidos, daqueles diálogos que impulsionam o projeto artístico de um novo escritor, oferecendo generosamente o impulso inicial que a timidez muitas vezes esconde.
Antes, porém, dessa volta triunfal ao conto, temos o último romance de José J. Veiga O Relógio Belisário, publicado em 1995 (Comitti:1998).
Após essa breve contextualização, caracterizarei a obra de José J. Veiga sob a ótica de alguns estudiosos para, em seguida, me situar em seu universo, na próxima semana, fazendo uma contextualização com o confuso e absurdo/insólito Brasil de hoje.