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Castro Alves e a marginalidade periférica: Negritude e literatura de púlpito (Parte V)

A poesia deu visibilidade ao negro que veio do outro lado do Atlântico trazido pela força bruta da máquina escravocrata

Deneval Siqueira Por Deneval Siqueira
17/11/2019 - 13:12 - atualizado em 18/11/2019 - 10:24
em Arte
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Castro Alves, enquanto poeta, inventou uma linguagem capaz de quebrar o silêncio sobre o negro escravo e a escravidão, ditado pela colonização na história e na literatura do país, desconstruindo, desse modo, discursos literários hegemônicos que celebravam o índio, o amor, os costumes e a cultura urbana. 

Sua poesia deu visibilidade ao “outro”, àquele que veio do outro lado do Atlântico pela força bruta da máquina escravocrata, contribuindo para que o diferente, o marginal periférico da senzala e dos canaviais despontasse na sociedade brasileira no período em pauta. 

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Essa literatura sobre os escravos teve correspondentes em outros países do Caribe, nos quais não se pode esquecer a extraordinária taxa de violência que as vítimas da empresa colonial pagaram e vêm pagando ao longo dos séculos, que abrigou um significativo número de escravos procedentes de diferentes regiões da África e que tiveram a plantation como forma de organização econômica predominante. 

Em outros termos, países colonizados, com uma expressiva população negra oriunda de migração forçada e onde diferentes culturas disputam poderes, a exemplo de Cuba, Brasil, Haiti, dentre outros, todos países periféricos e colonizados. 

Esse migrante forçado perde, então, suas tradições familiares, sua religião, o espaço que o viu crescer, dentre outros traços de identidade. Contudo, para Glissant, a mais importante perda foi a da Língua. 

Os navios negreiros não transportavam pessoas que falassem a mesma Língua. O mesmo acontecia nas plantações. Tentavam, com essa prática, tolher a comunicação entre os africanos para evitar possíveis rebeliões.

Espoliados de suas línguas maternas, os escravizados compunham várias línguas crioulas. Os escravos, ao serem destituídos da possibilidade de se comunicarem com a Língua de origem, desde a travessia do Atlântico, criaram não apenas as línguas crioulas, mas usaram outras formas de comunicação, como a dança e a música, que lhes permitiam compartilhar sentimentos independentemente da fala. 

Os gestos, a voz, o requebro, o olhar eram formas de comunicação. Era a arte assumindo sua dimensão comunicativa enquanto linguagem. Desde então a arte em geral e, sobretudo a dança, a música e a literatura apresentam-se como formas de expressão cultural de destaque no mundo escravocrata.

Castro Alves pautava-se no projeto literário do seu tempo, não poupava denúncias ao Império e celebrava em suas poesias os escravos, tema que só ganharia maior espaço em 1870, com Coelho Neto, Olavo Bilac, Artur Azevedo, dentre outros; e somente em meados dos anos 80 o abolicionismo tomaria formato de um grande movimento popular e urbano. 

É fato que, ainda no século XVII, o poeta Gregório de Matos, “Boca do Inferno”, em suas sátiras, cantou o escravo/negro com intensidade e, por isso, foi perseguido e exilado para Angola. 

No século XIX, foi Castro Alves o literato que retomou e celebrou a tradição dos oprimidos, rompendo o silêncio sobre a escravidão que o preconceito das elites se esforçava para esquecer ou disfarçar. Contudo, o não dito, o silêncio é também uma forma de o homem expressar sua aprovação ou desaprovação em relação a algum fato, e,  em uma sociedade modulada pela tradição oral, como fora a nossa, o velho provérbio popular “quem cala consente” foi naturalizado. 

O silêncio sobre a escravidão, significava o desejo da elite imperial de manter-se na hegemonia, pois era herdeira de todos que venceram antes, significava a cumplicidade com uma concepção de história que adere aos vencedores e nega ao escravo a condição de sujeito, de homem que ama, luta, cria, sonha e tece suas memórias; significava, ainda, reforçar o preconceito dominante, que desejava fazer esquecer ou disfarçar a descendência africana de nosso povo, expressava a vergonha pela escravidão, quando vários países do mundo já haviam realizado a abolição. A omissão sobre a escravidão acentuou-se após a Abolição. 

Agora, era necessário apagar os rastros das cicatrizes deixadas pela escravidão na história do país, “honrar a pátria”. Com essa compreensão, Rui Barbosa, em 1890, então Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e Presidente do Tribunal do Tesouro Nacional, decide incinerar todos os documentos relativos aos escravos e à escravidão no país. 

O projeto de construir, mais que uma Literatura, uma nação, ganhou marcas essenciais entre as ruas do Rio de Janeiro e foi-se impondo e desenhando fundos sulcos no interior do dividido chão ainda com remanescentes coloniais. 

Envolvidos fisicamente no processo de nacionalização do país, nomes como Castro Alves, Silvio Romero, Coelho Neto, Olavo Bilac, José de Alencar, Euclides da Cunha, entre outros, em épocas diferentes, ampliaram o espaço de sua atuação, inscrevendo-se já como intelectuais e como literatos. Como literatos, assumem a ousadia, incorporando os matizes reclamados por um projeto artístico centrado no nacionalismo, afrontando o poder. 

A adesão a um movimento coletivo que transforma a experiência literária numa espécie de compromisso com a história da própria nação, a literatura enfrentando a escravatura com sua função pragmática, social, de servir à sociedade, converteu-se, afinal, num dos elementos constitutivos da Literatura brasileira naquele período. 

Esse lastro tão poderosamente romântico definiu os rumos de toda essa produção literária. Em vários poemas de Castro Alves, já se vislumbram os sinais do sentimento nacionalista na religiosidade, na identificação com a terra, na celebração do amor romântico entre escravos, entre outros, que, de resto, pontuavam o Romantismo em vários países do mundo. Assim, o exercício literário, entre a prosa e a poesia, ia deixando entrever a procura da arte como uma força social totalizante, que se pudesse tornar um fator compensatório no meio de um espaço em que a carência era uma das medidas. 

A Literatura, para aqueles homens, estava a serviço da nação. Pareciam acreditar que a hora era mesmo de cortar, o mais rápido possível, os laços com a matriz, o que pressupunha a necessidade de escolher outro modelo, o de tornar pública a marginalidade periférica, mote de uma Arte nacional, de uma Literatura de púlpito, como mostrarei mais a frente. 

Tratava-se de afastar suas matrizes de Paris, pois era esta, e não Lisboa, a capital literária da América Latina. E a estabilização da consciência, como pressuposto para a concretização da autonomia projetada, era uma espécie de condição para que a pátria se transformasse em nação. 

Mas a ambiguidade dessa situação, tão cheia de contradições, não singularizava o Brasil no panorama internacional. Constitui, antes, uma espécie de condenação a que estavam fadadas aquelas sociedades que viveram na sombra dos projetos das metrópoles, outro aspecto marginal. 

O processo colonizador não se extingue com a assinatura dos tratados de independência, uma vez que a ação colonial se desdobra e deixa seu legado nos modos de pensar, agir, viver e sobreviver. O resultado é, então, a velha equação que, de um lado, dispõe a crueza de um mundo feito de carência e, de outro, expõe a luz ilusória dos grandes sonhos que não se cumprem. (Continua na próxima semana)

Tags: #CastroAlves#Escravos#Poesiaobra
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Deneval Siqueira

Pós-Doutor e professor Titular de Teoria e História Literária Centro de Ciências Humanas e Naturais Programa de Pós-graduação em Letras - Doutorado e Mestrado em Estudos Literários da UFES

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