Todo período de repressão alimenta a besta fera da devassidão. A propósito, o carnaval de 1919, após a Gripe Espanhola, reservou fantasias tão profanas quanto libidinosas no imaginário popular.
Na Bahia, o compositor Astério Menezes reuniu um grupo de travestidos nomeados “Raparigas em Folia” para sair nas ruas cantando sua composição “Sai Piroca!”. Sim, era um vulgo ao órgão sexual masculino.
O samba “E o mundo não se acabou”, do compositor carioca Assis Valente, é uma referência aos eventos que se deu após a pandemia que confinou o Rio de Janeiro. “Beijei na boca de quem não devia. Peguei na mão de quem não conhecia. Dancei um samba em traje de maiô”. A permissividade foi um efeito colateral imediato e irreprimível.
No estrangeiro, um dos maiores escritores do Século XX, Scott Fitzgerald, dedicou parte da sua obra retratando com entusiasmo a histeria hedonista, pós-guerra e pós-pandemia contagiante dos anos 20.
Um dos romances mais interessantes do escritor Ruy Castro, “Metrópole à beira-mar”, recupera o alucinante carnaval de 1919. Conta-se que nunca houve um carnaval tão obsceno e libertário quanto o carnaval de 19.
A moralidade – cerne responsável por fundamentar o crescimento da frágil e extrema direita – pode estar com seus dias contados diante da tirania do trágico Covid-19.
Os próximos carnavais poderão alçar proporções dilacerantes para certos cidadãos de bem.
Lastimavelmente… a imprevisibilidade ainda é a realidade que nos confina em nossas casas e apartamentos.
Grandes eventos ainda não têm data marcada. Datas comemorativas continuam se perdendo no calendário. E quem tiver sua janela que faça bom proveito do verão que está por vir.
Mas uma coisa é certa: A realidade pós-pandemia reserva a promessa de um aproveitamento ainda mais consistente da vida.
O mundo poderá ser tomado por uma intensidade provocadora que levará às ruas uma devassidão sem limites.